O PMDB fez hoje as prévias para escolher seu candidato à Presidência da República sem saber se o resultado final poderá ter alguma validade jurídica. Apesar de mais uma liminar do presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ), Edson Vidigal, suspender novamente as prévias, o partido manteve a consulta informalmente, e apenas cinco Estados não concordaram em realizá-las.
Com os votos de 13 estados contabilizados extra-oficialmente, até às 19h30, o governador do Rio Grande do Sul, Germano Rigotto, liderava a disputa, muita apertada. Rigotto estava à frente com 3.972 votos, contra 3.820 do ex-governador do Rio de Janeiro, Anthony Garotinho. Esse total representava ainda apenas o número bruto de cada Estado, sem levar em conta o peso que cada voto tem conforme a importância e a representatividade do diretório regional de origem. Nesse caso votos de Estados com maior peso valem mais do que os de Estados menores. Assim, a proporcionalidade de votos de diretórios importantes como São Paulo e Rio de Janeiro ainda não tinham sido calculada, podendo alterar esse placar.
Até o início da noite, as apurações já tinham terminado em 13 Estados e no Distrito Federal. Mandaram seus resultados nessa ocasião, os diretórios do Amazonas, Espírito Santo, Mato Grosso, Minas Gerais, Paraná, Pará, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Rio de Janeiro, Rondônia, Santa Catarina, São Paulo, Sergipe e Distrito Federal.
Pela estimativa dos dirigentes do PMDB, apesar das disputas judiciais, pelo menos 70% dos 20 mil integrantes com direito a voto participaram das prévias.
Depois de uma guerra de liminares com a ala governista, Germano Rigotto e Anthony Garotinho ainda tentavam reverter a decisão judicial, mas sem muita expectativa. Mesmo que consigam na Justiça a manutenção da consulta como prévias oficiais, o partido poderá ter dificuldade de validá-las, já que cinco Estados (Alagoas, Amapá, Bahia, Maranhão e Pará) não realizaram a consulta.
Esses Estados são comandados por alas do partido que defendem a manutenção da aliança com o PT nas próximas eleições. No Amapá e no Maranhão prevaleceu a orientação política do senador José Sarney, principal líder do partido nos dois Estados que é abertamente contrário à candidatura presidencial do PMDB. Em Alagoas, também valeu a orientação do presidente do Senado, Renan Calheiros, contrário às prévias. Na Bahia, os peemedebistas não participaram da apuração seguindo a liderança do deputado Gedel Vieira Filho.
Em outros Estados, houve confusão de informações. No Piauí, o diretório chegou a abrir as portas pela manhã, mas a consulta foi cancelada logo em seguida, mas voltou a valer novamente. No Pará, apesar da orientação contrária do deputado Jader Barbalho, um grupo de peemedebistas fez a prévia, com a participação de apenas 34 participantes e sua validade está sendo contestada. No Distrito Federal, onde o principal nome é o governador Joaquim Roriz, as prévias foram realizadas, mas praticamente vazias, com apenas 24 participantes.
A briga de liminares expôs publicamente a divisão do PMDB. Na noite da última sexta-feira, a ala pró-prévias conseguiu uma liminar no STJ, dada pelo ministro Hamilton Carvalhido, que suspendia os efeitos da primeira liminar, concedida por Vidigal e que suspendera as prévias. Ao saber que sua decisão havia sido mudada, Vidigal voltou às pressas do Maranhão e, depois das 22 horas do sábado, concedeu outra liminar a favor da ala governista do PMDB. Hoje, no início da noite, Vidigal deu um novo parecer, derrubando outro recurso a favor das prévias. Os defensores da consulta partidária apresentarão amanhã dois novos recursos, sendo um junto ao STJ e outro no Supremo Tribunal Federal.
Ligado politicamente a Sarney, Vidigal estava no Maranhão para anunciar, ainda informalmente, sua decisão de ser candidato ao governo do Estado. Deve se aposentar do STJ – para onde foi indicado por Sarney, quando este era presidente da República -, e filiar-se ao PSB. Sua vice deverá ser uma deputada estadual do PT.
Acusado pelos candidatos peemedebistas de estar misturando suas ambições políticas com suas decisões judiciais, Vidigal se defendeu usando uma questão temporária: "Não posso ser candidato se eu não sou filiado a nenhum partido. Já requeri o meu pedido de aposentadoria, mas enquanto eu não for aposentado, eu sou juiz", disse. A filiação pode ocorrer até o dia 31 de março.
