Em clima de tensão, a bancada de senadores do PMDB pode indicar amanhã o nome para a presidência do Senado, cargo em disputa pelo líder Renan Calheiros (AL) e pelo senador José Sarney (AP). Os dois candidatos afirmam ter o apoio da maioria dos colegas. Eles passaram as últimas horas envolvidos em articulações misteriosas.
Renan acredita que terá o voto dos senadores mais afinados com a cúpula do partido. Sarney aposta no apoio do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para atrair o apoio dos companheiros. Com 20 senadores, a bancada do PMDB é a maior do Senado. Os candidatos mantiveram em segredo os nomes que conseguirão atrair ou manter longe de Brasília. O chefe da Casa Civil, José Dirceu, pediu ao presidente do Senado, Ramez Tebet (PMDB-MS), que agisse para adiar a reunião de amanhã.
“Ele achou que a data era incompatível”, informou Tebet. Se não houver quorum, Sarney será dado informalmente como vencedor da disputa. Sua estratégia é a de pedir a seus aliados que não compareçam ao encontro marcado para as 11 horas. Ele próprio informou que não estará presente por entender que a data da reunião, inicialmente prevista para o final deste mês, é intempestiva. “Tenho ouvido de senadores que essa precipitação é um desafio às negociações que vêm sendo feitas com o governo”, defende, referindo-se às conversas entre o PT e o PMDB para a indicação do candidato a presidente.
Para Sarney, se Renan conseguir quorum – mínimo de 11 senadores – dará uma demonstração de força na bancada.
Mas ele não acredita que isso vá ocorrer. Renan afirma que convocou todos os integrantes da bancada.
Mas o senador eleito José Maranhão (PB), por exemplo, diz que não foi chamado para o encontro. Renan passou o dia de hoje tentando minar o apoio do Planalto a Sarney e pedindo o apoio de colegas. Sua previsão é a de receber o apoio de pelo menos 15 senadores.
Os sinais do apoio do governo a Sarney são mais que evidentes, mas ainda assim Renan acredita que conseguiu remover as resistências do Planalto a seu nome. Cita como prova o fato de Dirceu ter avisado a ele, na noite de ontem, que o presidente do PT, deputado José Genoino (SP), iria lhe telefonar para “reafirmar” sua isenção na disputa. Assim ocorreu, só que Sarney continua convencido de que é o preferido do Planalto. “E aí eles vão enfrentar o governo?”, pergunta o senador do Amapá diante das tentativas de Renan e da cúpula do partido de expor o Planalto na disputa das Mesas.
Caso a bancada opte por Renan, não está descartada a possibilidade de Sarney disputar a presidência no plenário, como candidato avulso.
O líder prevê que ainda assim, mesmo com a oposição da maioria do PFL, teria a maioria dos votos. Se Sarney for o vitorioso, na candidatura em plenário, fica rompido o acordo do PMDB e do PT para a eleição dos presidentes das duas Casas e, nesse caso, a cúpula peemedebista deve rever seu apoio ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.