O ex-governador de São Paulo e presidente do PMDB no Estado, Orestes Quércia, disse hoje que o partido deu trégua ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Quércia disse que o partido suspendeu a cobrança para que filiados entreguem os cargos na administração federal por "questões de ordem prática" e para interromper o processo de racha político na legenda.

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"Não é o caso de o PMDB sair do governo, entregar ministérios, porque grande parte do partido apóia a administração Lula", sustentou ele, que, na semana passada, esteve reunido com o presidente, em Brasília.

Até mesmo a recusa, pelo Senado, do nome do engenheiro José Fantine para dirigir a Agência Nacional do Petróleo (ANP), pela qual os senadores da sigla foram apontados como os principais responsáveis, foi um "caso isolado, por motivações particulares dos senadores", e não um movimento da agremiação, de acordo com Quércia.

"Foi um descontentamento isolado, que demonstra, porém, que não há relacionamento (político) absolutamente tranqüilo. O setor do PMDB mais envolvido com o governo é liderado pelo presidente do Senado, Renan Calheiros (AL), e pelo senador José Sarney (AP), e, mesmo assim, o governo enfrentou dificuldades", analisou.

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Ao avaliar as decisões tomadas pelo partido no encontro realizado em dezembro, que estabeleceu a independência em relação ao Poder Executivo e a restituição imediata de cargos pelos ministros peemedebistas, o ex-governador de São Paulo afirmou: "Na prática, não temos condições de exigir a entrega dos cargos, uma vez que o encontro nacional do partido está numa disputa judicial que vai demorar muito para ser resolvida."

A legenda administra os Ministérios da Previdência Social, com o ministro Romero Jucá, e das Comunicações, com o ministro Eunício Oliveira. "Decidimos manter a união do partido sem exigir a entrega dos cargos para, depois, unidos, lançarmos candidatura própria para a Presidência da República, no ano que vem."

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Sobre a situação de Jucá, envolvido em denúncias de irregularidades na obtenção de financiamentos, Quércia preferiu não falar, afirmando apenas que o principal interlocutor da sigla com o Executivo é Calheiros.

De acordo com o ex-governador, Lula foi informado, na reunião, da intenção do PMDB de ter candidato próprio em 2006. "Vamos manter os cargos para somar com o presidente, mas nosso interesse, como de qualquer outro partido, é de ter um projeto próprio de poder", assegurou.

Por causa dessa proposta, Quércia revelou que vê dificuldades para a formação de uma aliança nacional entre PT e PMDB. Em São Paulo, por exemplo, o ex-governador diz ser "quase impossível" firmar um acordo com os petistas porque a agremiação do presidente pretende apresentar candidatura própria a governador e a senador, com a tentativa de reeleição de Eduardo Suplicy.

"O PT não tem nada para negociar em São Paulo", declarou Quércia, ao admitir que poderá ser candidato do PMDB a governador. As possibilidades teriam "grande mudança", segundo o presidente do PMDB no Estado, se o PSDB indicar o nome do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso para disputar a sucessão do governador Geraldo Alckmin (PSDB). "Não acredito que o ex-presidente Fernando Henrique aceite essa indicação. Seria mais fácil ele disputar a Presidência da República com Lula. Mas se for candidato a governador, mudaria muita coisa porque estamos falando de um ex-presidente e de um partido que está há três mandatos administrando o Estado", analisou.

Nessas circunstâncias, admite Quércia, pode haver aproximação entre o PMDB e o PSDB. "Da mesma forma que conversamos com o PT, nós também conversamos com o PSDB. Eu mesmo mantive conversas com o ex-presidente Fernando Henrique e nos damos muito bem", salientou.

O presidente do PMDB prosseguiu, afirmando que ainda este mês deverá promover um encontro entre governadores, parlamentares e a direção do PMDB para agendar a realização de prévias com o objetivo de escolher o candidato da legenda a presidente da República.

"Nossa indicação de prazo é para que as prévias aconteçam até abril do ano que vem e o registro da candidatura em junho, conforme estabelece a Justiça Eleitoral", acredita.