Os governadores do PMDB, reunidos nesta sexta-feira em São Paulo, aprovaram por unanimidade proposta do governador Roberto Requião para que o partido elabore um projeto de política econômica para o país, diferente do praticado pelo Governo Federal atualmente.
Segundo Requião, a proposta do PMDB tem que levar em conta “o desenvolvimento nacional, a valorização dos brasileiros e das empresas nacionais, a preocupação com o mercado de consumo interno e o mercado de trabalho”. Para ele o projeto que o PMDB vai elaborar deve ter “como preocupação central a construção da nação brasileira, já que, pelo modelo atual, o Brasil não é mais do que um simples mercado submetido aos interesses do capital financeiro e das transnacionais”.
Os seis governadores do PMDB, reunidos com o presidente Michel Temer e outros dirigentes nacionais e regionais, aprovaram ainda a saída do partido do Governo Federal e anunciaram que, daqui para frente, terão uma posição de independência em relação à Brasília.
Os governadores destacaram que essa decisão deve ser vista como uma colaboração do PMDB para que o PT reconduza-se às teses originais que o levaram à Presidência da República. Segundo eles, foi exatamente o abandono dessas teses que provocou a derrota petista nas últimas eleições municipais.
Requião esclareceu que o PMDB não está rompendo com o Governo Federal e manterá, daqui para frente, “apoio crítico” ao presidente Lula. “Vamos apoiar com firmeza todas as decisões do Governo Federal que, segundo pensamos, favoreçam os brasileiros e as empresas nacionais. No entanto, faremos uma crítica leal, ética todas as vezes que discordarmos dos rumos principalmente da política econômica”, disse o Governador.
MDB
Depois da elaboração de um projeto econômico para o Brasil, Requião defende que o PMDB, em convenção nacional, volte a chamar-se MDB, retomando o nome com que liderou a resistência à ditadura. Na seqüência, anunciou o governador, o partido fará prévias em todos os Estados para discutir a sua proposta de política econômica e decidir o lançamento de candidato à Presidência da República.
As sugestões dos governadores de independência em relação ao Governo Federal, a elaboração de uma proposta alternativa de política econômica e a convocação de uma convenção nacional serão submetidas à reunião nacional do partido, no próximo dia 10, em Brasília.
Federação
Na reunião, os governadores do PMDB criticaram ainda o esvaziamento da Federação, com a concentração de recursos e poder na União. “A orientação neoliberal de enfeixar tudo nas mãos do governo central, que imperou nos oito anos do Fernando Henrique Cardoso, continua enquanto os Estados estão sendo esvaziados de recursos e da capacidade de intervir nas realidades locais”, afirmou Requião.
O governador do Paraná defendeu na reunião a necessidade do país “voltar à Federação”, com justo equilíbrio de distribuição de responsabilidades e recursos entre União, Estados e municípios. Para ele, há um paralelo entre a concentração de recursos na União, e a concentração de poder nas mãos das transnacionais. “O esvaziamento do Estado brasileiro e o enfraquecimento da Federação está de acordo com o que desejam os grandes grupos multinacionais, especialmente o capital financeiro. O que eles querem é exatamente isso: um governo central que açambarque tudo e que se submeta aos seus interesses”.
Segundo o governador do Paraná, o principal objetivo dessa concentração de recursos é fazer dinheiro para o pagamento da dívida brasileira, mesmo que isso custe a penúria de Estados e Municípios.
Confiança
Na reunião, o governador destacou a sua confiança pessoal no presidente Lula e deixou claro que a nova postura do PMDB não significa oposição a ele. Requião disse ainda que confia na sensibilidade do presidente para mudar a orientação da política econômica na segunda metade de seu mandato. “Sou fã de carteirinha, um lulista nato”, afirmou.
Quanto ao Paraná, Requião disse que nada muda na aliança com o PT mesmo porque o PMDB não está rompendo com o Governo Federal e que ele mesmo, há tempo, faz observações críticas à política econômica do ministro da Fazenda, Antônio Palocci.