Rio – Depois de enfrentar talvez o pior mês da história da companhia, a Varig e sua crise entram em nova etapa – e há luz no fim do túnel. A proposta consensual com o governo para venda isolada da parte doméstica sadia, com financiamento e empréstimo-ponte via BNDES, pode dar novos rumos às negociações. Concorrentes poderão entrar no negócio. O próprio Matlin Patterson não descarta ajustar a segunda proposta, via Varig Log Já há pelo menos um consórcio sendo montado, pela ASM Asset Management, para um eventual leilão da parte doméstica.

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O executivo Lap Wai Chan, do fundo Matlin Patterson, sócio na Volo Brasil, dona da Varig Log, disse que não descarta uma adaptação da proposta original de US$ 400 milhões da ex-subsidiária pela compra da Varig. Mas a evolução do assunto depende do que for apresentado na assembléia de credores, terça-feira (2). Na sexta, representantes do Matlin foram à Justiça, para se inteirar da evolução do processo.

No mesmo dia a Alvarez&Marsal divulgou detalhes do chamado Plano B, montado em consenso com o governo, para a venda da Varig doméstica. A Alvarez fez contatos isolados com os principais credores da empresa, para apresentar as linhas gerais da alternativa, que será detalhada nos próximos dias. Por ela, o BNDES poderá financiar até 50% da compra da Varig doméstica em leilão, num prazo de 60 dias, e antecipar, numa operação de mercado, US$ 100 milhões ao fluxo de caixa da companhia aérea.

Um técnico do BNDES esteve hoje na sede da empresa, para levantar os dados financeiros solicitados pelo banco que servirão de base à análise da antecipação do empréstimo, confirmou o diretor geral da Alvarez no Brasil, Marcelo Gomes. Mais à frente, será feita uma "due dilligence" (verificação de contas), para fixação do valor mínimo da Varig doméstica.

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O BNDES não se manifesta oficialmente sobre o assunto, mas uma equipe de funcionários da área de Mercado de Capitais do banco acompanha as principais reuniões da empresa com o governo e com a Anac, agência reguladora do setor, nas últimas semanas.

O banco admite financiar um investidor para Varig, mas não terá relação comercial com a Varig antiga, pesadamente endividada e sem certidão de dívidas quitadas. Qualquer alternativa de empréstimo levará em conta a oferta de garantias, sem risco ao banco.

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O projeto de venda da parte doméstica ainda está sendo modelado. Exigirá a participação de uma companhia aérea em cada consórcio. Segundo uma versão extra-oficial, esta teria sido uma exigência do banco e da Anac. A TAM disse que não comentaria a hipótese de analisar o negócio, já que sabe da proposta apenas pelos jornais. Os executivos da Gol não foram localizados na noite de sexta-feira.

Credores

A assembléia de terça-feira vai analisar a proposta da Varig Log e decidir alterações no plano de recuperação. A venda de unidade isolada é prevista na Lei de Recuperação Empresarial, mas precisa ser incluída no plano. A expectativa é que a alteração seja aprovada. Em tese, diz uma fonte, os credores não teriam motivo para vetar uma alternativa adicional. Além disso, a proposta da venda fatiada é um consenso com o governo, diz a Alvarez&Marsal, e os credores estatais votarão na assembléia.

O fundo de pensão Aerus, que se opunha à proposta inicial da VarigLog, também não concorda com a segunda oferta, porque não há solução para o endividamento passado da companhia aérea. O fundo, maior credor privado da Varig, ficará contra a proposta da Varig Log na assembléia e votará a favor da inclusão da possibilidade de venda isolada dentro do plano de recuperação informou uma fonte.

Enquanto isso, ao menos um consórcio já analisa a participação num leilão da Varig doméstica. Está sendo coordenado pela ASM, empresa de gestão de recursos, baseada no Rio, com fundos administrados de R$ 500 milhões, que já prestou assessoria à Varig na arquitetura societária para a recuperação.

O sócio da empresa, Antonio Luis de Mello e Souza, confirmou estar estruturando um fundo – com um sócio operador e outros quatro cotistas investidores – para participar de um leilão da parte isolada da Varig. Ele não revela o nome dos interessados. Diz que a proposta está sendo formatada e só será apresentada quando houver o leilão.

Segundo a Alvarez, caso aprovada a alteração do plano, em até 10 dias será montada uma Sociedade de Propósito Específico (SPE) com a operação doméstica e parte do Smiles. Dentro de 60 dias sairia o leilão da unidade isolada.

A "Varig internacional" continua com os passivos, dentro da recuperação judicial e direitos sobre a ação de recomposição tarifária movida contra a União. A nova empresa doméstica terá um contrato operacional, para alimentar os vôos internacionais da Varig com os passageiros do mercado local. Em contrapartida, a Varig internacional deverá ter 10% da nova empresa, o que garantiria à empresa antiga uma chance de valorização.

O executivo da Alvarez&Marsal, Luiz de Lucio, diz que é possível companhias concorrentes se interessarem pelo plano B. "Imagino que sim. Em qualquer mercado quando um concorrente está à venda, pelo menos se olha o negócio." De Lucio passou os últimos dias em Nova York, acompanhando a audiência na Corte americana que prorrogou, para a Varig, a blindagem contra o arresto de aviões por 30 dias.

A Varig entrou em abril com a crise em estágio agudo e rumores, quase diários, de que poderia paralisar as operações a qualquer momento. Vôos atrasados ou cancelados. Oficialmente, a empresa reconhecia ter problemas de caixa e precisava adiar o pagamento de dívidas. Tentou um acordo, que não saiu. Mais de uma vez o presidente da Varig, Marcelo Bottini, desmentiu rumores de paralisação da empresa.

Os problemas financeiros da Varig atual são delicados. No primeiro trimestre do ano, a companhia aérea acumulou despesas correntes não pagas no valor de US$ 72,514 milhões, das quais US$ 19,564 milhões para empresas de leasing de aviões. Também não conseguiu voar no período com a quantidade mínima de "aeronaves navegáveis" (63) prevista no plano de recuperação para o primeiro semestre. Semana passada, o total "navegável" chegou a 47. Em meados do mês, surgiu a nova proposta da Varig Log e, agora, o Plano B em paralelo a uma maior disposição de o governo apoiar uma solução de mercado. Há também uma proposta do consultor Jayme Toscano e um projeto do movimento Trabalhadores Geral da Varig (TGV) anexados ao processo de recuperação.