A vida do arquiteto curitibano Ayrton João Cornelsen, ou "Lolô" Cornelsen, mistura-se com a história de Curitiba. Nascido em 1922, viu crescer ou foi responsável direto pelo surgimento de importantes obras na cidade. Pioneiro do modernismo latente na década de 1940, despertou a admiração do arquiteto francês Alfred Agache, que, em 1943, projetava o Plano Diretor da cidade. "É por isso que posso dizer que Curitiba, da maneira como está, não passa de um golpe de marketing", critica.
O arquiteto – que atuou como jogador de futebol do Atlético Paranaense, acabou planejando o estádio Couto Pereira, do rival Coritiba – acha que os sucessivos governos militares que tomaram o poder na década de 1960 ?esculhambaram? com o projeto original. "Quando Agache chegou aqui, Curitiba era uma cidade virgem?, relembra. O francês teve experiências anteriores em cidades milenares européias e teve muitos problemas para adotar planos urbanísticos modernos. ?Aqui ele fez um trabalho genial, que começou a ser implantado para transformar a vida de Curitiba, que até a década de 1940 não possuía planejamento algum.?
Lolô comenta que, naquela época, as ruas eram todas curtas e estreitas, não levavam as pessoas longe, mas com a ascensão dos militares, a execução do Plano Diretor planejado pelo arquiteto francês foi rapidamente desconsiderado. "As avenidas largas do plano não estavam prontas. Algumas, como a Marechal Floriano, foram interrompidas, resultando em vias ora largas, ora estreitas e inúteis." Por perseguições políticas, Lolô preferiu ir para o Rio de Janeiro na década de 1970. Com experiências muito bem-sucedidas no Rio e fora do Brasil, voltou ao Paraná a fim de tirar suas idéias – para a cidade e para o Estado – do papel. "Mas os governos que sucederam os militares também não foram melhores. Até hoje se vive de um marketing falso sobre Curitiba", reclama.
