O uso de águas públicas na piscicultura pode ajudar a alavancar o setor. Na região norte do Paraná, a atividade vem apresentando um crescimento de 10% ao ano. As 1.440 toneladas anuais produzidas atualmente, podem chegar até 400 mil se os oitos reservatórios ao longo do Rio Paranapanema entrarem em operação. Mercado para isso existe. Hoje, o brasileiro consome em média 6,5 quilos de peixe por ano e a recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS) é que suba para 16 quilos.
O Paraná tem vários fatores que favorecem o desenvolvimento da piscicultura. O mercado tem muito para crescer, o estado é rico em mananciais e a carne do peixe é magra, rica em nutrientes. Desde 2004, os ventos vêm soprando a favor na região norte e a atividade começa a deslanchar com uso de águas públicas de três represas da região, a Capivara, Xavantes e Canoa, além da instalação de três frigoríficos em estados vizinhos que exportam filés.
Hoje existem 40 áreas produtivas nas represas, chamadas de tanques-redes, e empregam diretamente cerca de 400 pessoas. ?Resgatamos a aptidão natural destas regiões que foram inundadas. Antes se plantava soja, agora plantamos e colhemos peixe?, explica o engenheiro de pesca da Emater na região, Luiz Eduardo Sá Barreto. Outras cinco represas ainda podem entrar em operação e com uso de 1% da água de todas elas pode-se chegar a produzir até 400 mil toneladas por ano, quase a metade da produção nacional – que é de um milhão de toneladas. A concessão do uso das águas é feita após o piscicultor elaborar um projeto de manejo, levando em conta o meio ambiente.
Depois disso, os produtores precisam ter muita paciência. A concessão pode demorar mais de dois anos. O documento é analisado pela Marinha – para manter a segurança da navegação, pela Agência Nacional de Águas (ANA), Secretaria de Patrimônio da União e Instituto Ambiental do Paraná (IAP). ?É uma via burocrática, mas é necessária para organizar a produção e cuidar do meio ambiente?, fala Barreto. No reservatório da Usina Hidrelétrica de Itaipu e no de Caxias, no Rio Iguaçu, também estão sendo desenvolvidos outros projetos de tanques-rede. Os pequenos produtores podem conseguir o projeto junto à Emater e o financiamento com o Banco do Brasil.
A vice-presidente da Associação Rolandece de Aqüicultores, Pietra Maria Wagner, diz que os piscicultores só começaram a produzir peixes em tanques-rede devido à garantia de compra dos dois frigoríficos de São Paulo e um do Mato Grosso do Sul. Até então a venda era destinada aos pesque-pague, mas não havia uma regularidade na entrega. ?Agora podemos planejar a atividade. Só estamos produzindo os peixes em tanque-rede devido à certeza de comercialização?, avalia Pietra. Ela mesma está dobrando a sua produção.
Cascavel e Toledo são responsáveis por 50% do total do Estado
Foto: Anderson Tozato/O Estado |
Daniel: "Falta uma série de coisas, entre elas qualificação técnica". |
Além da região norte, o oeste também produz muito peixe. As cidades de Cascavel e Toledo respondem por 50% da produção estadual. Em 2004, foram 8.409 toneladas. Já na região sudeste, a atividade ainda patina. Curitiba e Paranaguá produziram apenas 747 toneladas, todas provenientes de tanques escavados.
?Não existe uma resposta fácil para a baixa produtividade. Falta uma série de coisas, entre elas a qualificação técnica?, comenta o presidente da Associação de Piscicultores da Região Sudeste, Daniel Hundt. Segundo ele, os produtores da região não conseguem competir com os de Santa Catarina. Mesmo incluindo o preço do frete e 12% de imposto, o peixe do estado vizinho acaba saindo mais barato do que o paranaense. ?Em qualquer atividade tem que ser eficiente para competir?, reforça.
Outro grande problema da região sudeste é que a maioria dos piscicultores não vive exclusivamente da atividade. Isso faz com que a associação não se fortaleça para buscar uma solução para o problema.
Segundo Luiz Danilo Muehlmann, responsável pela área de piscicultura e pesca da Emater, a produção de peixes é uma atividade nova e, por isso mesmo, acaba tendo que superar vários desafios. A profissionalização dos piscicultores e a industrialização começou na década de 1990 e, em algumas regiões do estado, o setor ainda não conseguiu equilibrar a cadeia produtiva, como é o caso da região sudeste. Luiz comenta que o produtor não consegue entregar o peixe com regularidade, negocia de forma individual a compra de insumos e a venda do peixe, além de não fazer nada para agregar valor ao produto. ?Em Santa Catarina a compra é feita de forma conjunta e os produtores conseguem até 18% de desconto?, compara.
Norberto Esumi, proprietário de um frigorífico na Região Metropolitana de Curitiba, também sofre com a falta de matéria-prima na região. A capacidade do abatedouro é de 200 quilos de filé de tilápia por dia, mas ele nunca chegou a processar todo esse volume. Algumas vezes o frigorífico chega a ficar desativado.
A falta de organização da cadeia também prejudica a criação de novos postos de trabalho. Se o frigorífico estivesse operando com a capacidade máxima poderia empregar até cinco pessoas, mas como o negócio ainda está instável apenas a família trabalha no empreendimento. ?Ainda não tive lucro e não sei se vou recuperar o que eu já investi. Existe mercado, mas falta organização. Se dependesse só desta renda para viver, já teria desistido?, comenta. (EW)
Cooperativa construirá frigorífico
De olhos na expansão do setor, os piscicultores estão se reunindo em uma cooperativa para construir um frigorífico em Cornélio Procópio, na região norte. Segundo o presidente da Associação de Piscicultores de Tanques-rede do Paraná, Jefferson Osipi, parte do financiamento já foi obtida junto ao governo federal. A capacidade do abatedouro será de 7 toneladas por dia. Além dos empregos diretos, o frigorífico também vai fomentar toda a cadeia produtiva, como a produção de alevinos e o setor de ração. Além disso, os 1.800 piscicultores que trabalhavam com tanques escavados e que estavam quase desistindo da atividade ganham novo fôlego. A Secretaria Estadual de Ciência e Tecnologia é uma das parceiras do projeto. Outro passo da cooperativa será a fabricação de ração, já que ela representa até 70% dos custos para o produtor.
A venda para frigoríficos parece mesmo ser a garantia de expansão do setor. Hoje os pesque-pague consomem 51% da produção, mas a atividade está estagnada. Em 2000, no Paraná, havia 685 empreendimentos e em 2004, 639. Embora paguem até R$ 0,70 a mais por quilo do que os frigoríficos, não compensa pela falta de regularidade da compra. Para Luiz Danilo Muehlmann, responsável pela área de piscicultura e pesca da Emater no estado, o futuro da atividade também pode estar nas feiras de peixe vivo, onde a população consegue comprar a carne por um preço bem mais acessível. Hoje o quilo do filé de tilápia custa no supermercado cerca de R$ 12 e na feira o preço do peixe vivo poderia baixar para R$ 4. A produção de peixes no estado é de 16,6 mil toneladas em tanques escavados, sendo que 70% se concentram nas regiões oeste e norte.