Os dados da produção industrial voltaram a surpreender em janeiro mas, ao contrário do que ocorreu no final do ano passado, dessa vez os números vieram piores que as estimativas mais pessimistas. Após a forte expansão de 2,4% em dezembro ante novembro, a indústria iniciou o ano "acomodada". Em janeiro, houve queda de -1,3% na produção ante dezembro de 2005, em desempenho pior do que as projeções mais negativas dos analistas de mercado, que não esperavam resultado inferior a -0 40%.
Para o coordenador de indústria do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Silvio Sales os resultados de janeiro mostram uma "acomodação após um crescimento significativo", mas não revertem a tendência de crescimento do setor. Paulo Mol, da Confederação Nacional da Indústria (CNI), vê uma atividade econômica "estável, levemente positiva, com recuperação bastante gradual e lenta".
Julio Sergio Gomes de Almeida, diretor executivo do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) ficou surpreso com a queda, que atribui a um cenário de incertezas. "Há oscilações muito fortes, típicas de um setor que saiu do pior mas ainda não tem uma sistemática de crescimento mais definida", avalia.
O sinal vermelho emitido pelo nível de atividade da indústria só não foi pior porque o IBGE divulgou também dados positivos, como crescimento de 3,2% ante janeiro de 2006 – o melhor resultado em quatro meses ante igual mês de ano anterior – e aumento no indicador de média móvel trimestral, considerado o principal sinal de tendência no curto prazo.
A produção no trimestre encerrado em janeiro foi 0,6% maior do que no trimestre terminado em dezembro. Mesmo que tenha ocorrido perda de ritmo em relação ao dado similar de dezembro (1,3%), Sales considera esse o principal exemplo que não houve ainda "reversão" na tendência de crescimento da produção da indústria.
Ele explicou que a acomodação pode refletir ainda uma normalização dos estoques, que parecia ter sido concluída em dezembro. No entanto, Sales alerta que somente os dados de vendas da indústria, tabulados pela CNI, a serem divulgados na semana que vem, poderão revelar a relação entre o movimento de estoques e os dados da produção da indústria. Caso a CNI aponte crescimento das vendas, poderá ser um importante sinal de reação da atividade industrial nos próximos meses.
