Apenas cinco preciosos dias separam o eleitor das urnas que haverão de revelar os novos governantes dos próximos quatro anos. A decisão de domingo próximo colocará no Planalto um novo presidente da República e, no caso específico do Paraná, um novo governador no Palácio Iguaçu. Ambos sucedem a mandatários reeleitos e, também por isso, bastante desgastados. Enquanto a campanha se envereda para as considerações finais, fica no eleitor a sensação de responsabilidade maior diante dos acontecimentos registrados nos embates do segundo turno. Que ele decida por convicção própria, não pelas pesquisas.

No âmbito nacional, a novidade maior continua a ser o medo, na prática há muito traduzido pelo nervosismo dos mercados, mas trazido à baila no debate por uma atriz. Os partidários de José Serra reforçam a defesa do direito que as pessoas têm de sentir medo e dúvidas, enquanto do lado de Luiz Inácio Lula da Silva o esforço maior foi para conter o mal súbito do patrulhamento ideológico. Folgado nas pesquisas, o petista conseguiu diminuir a realização de debates. Ficou, assim, livre do medo de outra vez confundir siglas de imposto – como ocorreu no último debate do primeiro turno – com órgão público. Uma pegadinha sem importância, mas que causa embaraço na campanha.

Aqui no Paraná, o embate é muito apertado. Alvaro Dias e Roberto Requião – dois ex-governadores de boa lembrança, em cujos currículos estão igualmente mandatos de senador – disputam voto a voto e, segundo as pesquisas, podem ser considerados tecnicamente empatados. Em busca da diferença que fará a vitória, ambos lançam mãos de todos os recursos que a imaginação se lhes oferece. Nos últimos dias, deram para discutir a paternidade de obras já concluídas, inauguradas e – ao que consta – pagas pelos contribuintes: a Usina Hidrelétrica de Segredo, a Ferroeste e a duplicação da BR-376, no trecho entre Curitiba e Garuva. Um diz que teve a coragem de começar e de levar as obras até um ponto; outro diz que estavam paradas e superfaturadas. Graças ao debate, descobrimos que por trás de uma obra pública existem mais coisas que o árduo trabalho para construí-las.

É até mesmo possível, mas pouco provável (que o diga Fernando Henrique Cardoso!), que o eleitor decida seu voto em função da autoria de obras concluídas. Águas passadas não movem moinho, diz o velho ditado. No máximo, servem para indicar a intensidade da torrente. Melhor seria canalizar tanto esforço e tempo (também o dos ouvintes eleitores) para o projeto do futuro, que a tantos preocupa, a ponto de gerar temores e angústias. Foi o que ficou mais ou menos claro no debate realizado entre Alvaro e Requião na última sexta-feira à noite. Ironias e agressões de ambos à parte, Alvaro Dias escorregou de graça no Fundef (Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério, instituído pela Emenda Constitucional n.º 14 de 1996 e regulamentado pela Lei n.º 9.424, de 24 de dezembro do mesmo ano), que ele queria fosse uma poderosa e moderna alavanca para seus projetos da área agrícola. O senador justificou o erro dizendo-se atraiçoado pelo enorme número de siglas. Os agricultores o compreendem, disse. Ficou pior a emenda que o soneto: ninguém perguntou nada aos professores.

continua após a publicidade

continua após a publicidade