Pinochet está consciente, mas condições são críticas

O ex-ditador chileno Augusto Pinochet estava consciente e conversando nesta segunda-feira (04), mas médicos disseram que ele ainda corria risco de morte depois de ter sofrido um ataque cardíaco ontem. "Não houve complicações. Ele segue em condições críticas, mas estáveis", afirmou o médico Juan Ignacio Vergara, porta-voz da equipe médica que atende Pinochet, de 91 anos. Seus problemas de saúde há muito o ajudam a escapar de processos por abusos cometidos durante sua ditadura, de 1973 a 1990.

"Não podemos dizer que ele superou as condições críticas antes de 24 a 48 horas de sua entrada no hospital. As condições gerais continuam sendo de risco de vida", prosseguiu. Se o quadro for mantido, Pinochet deve permanecer no hospital por mais uma semana. "O principal risco agora é de outro ataque cardíaco ou infecções", acrescentou.

Pinochet foi levado às pressas para o hospital ontem de manhã, uma semana depois de ter assumido "plena responsabilidade política" pelas ações de seu regime, que realizou milhares de assassinatos de opositores, praticou tortura generalizada e promoveu detenções ilegais.

Segundo Vergara, médicos decidiram que não há necessidade de uma cirurgia de ponte de safena, uma vez que a angioplastia realizada ontem para desobstruir uma artéria cardíaca "foi bem sucedida e a situação está sob controle". Vergara relatou que Pinochet está consciente e conversando com familiares e médicos, que também conseguiram extrair líquidos acumulados em seus pulmões.

Mas Vergara fez questão de salientar que ainda pode haver complicações no estado de Pinochet, que está sob prisão domiciliar em sua mansão em Santiago por acusações de abusos dos direitos humanos, já que ele usa marca-passo e sofre de diabetes artrite e demência branda causada por vários derrames. O ex-ditador tem vivido cada vez mais isolado desde 1998, quando foi detido em Londres por uma ordem de prisão internacional emitida por um juiz espanhol que buscava sua extradição para responder a acusações de crimes contra a humanidade.

Em 11 de setembro, no 33º aniversário de seu golpe militar contra o presidente socialista eleito Salvador Allende, apenas duas mulheres apareceram na frente de sua casa para expressar apoio, um duro contraste com anos anteriores, quando a data era motivo de grandes celebrações. Um grande motivo para a perda de apoio entre antigos seguidores foi a revelação, em 2004, por uma comissão do Senado dos Estados Unidos, de que Pinochet tinha milhões de dólares depositados em contas secretas no Riggs Bank, em Washington. A informação, que chocou seus aliados mesmo mais próximos, levou a um indiciamento por acusação de evasão fiscal no Chile.

Apesar disso, simpatizantes continuam manifestando lealdade a Pinochet por considerar que ele "salvou o Chile do comunismo". Mais de dez pessoas passaram a noite na frente do hospital, algumas delas rezando, e diversas outras aglomeraram-se no local pela manhã. "Ele é como um pai para mim e todos nós devemos muito a ele", disse Julieta Aguilar, que levava consigo um busto de Pinochet em miniatura. De acordo com um relatório elaborado por uma comissão independente, 3.197 pessoas foram assassinadas por razões políticas durante os 17 anos de ditadura de Pinochet. Os corpos de mais de mil dessas vítimas seguem desaparecidos.

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