O general chileno Augusto Pinochet, falecido no domingo, foi cremado nesta terça-feira (12) no cemitério de Parque del Mar, em Concón, perto da Base Aeronaval de Viña del Mar, já que a família temia que se fosse enterrado de forma convencional seu túmulo sofreria eventuais profanações. As cinzas foram levadas para a chácara da família na região do litoral central do Chile, em Los Boldos.
O governo da presidente socialista Michelle Bachelet recusou-se conceder-lhe um funeral com honras de ex-chefe de Estado e só autorizou as cerimônias previstas no protocolo para a máxima autoridade militar. Também foram proibidas as bandeiras a meio pau, já que o governo não considerou a jornada como dia de luto nacional. Só os edifícios do Exército tiveram permissão para baixar a bandeira.
No entanto, durante a cerimônia fúnebre, os filhos do general colocaram inesperadamente uma faixa presidencial sobre o caixão, em claro desafio à proibição de Bachelet de conceder ao ex-ditador as mais altas honrarias. A cerimônia fúnebre foi realizada no Pátio Alpatacal, a parte dianteira da Escola Militar, com a presença da ministra da Defesa, Vivianne Blanlot, que foi vaiada por milhares de fanáticos pinochetistas que acotovelavam-se no lugar para ver o féretro do defunto líder. De forma simultânea à vaia, na hora em que Blanlot entrou no pátio da Escola Militar, um coro começou a cantar trechos da monumental ópera Die Meistersinger von Nurnberg, de Richard Wagner, a preferida do Führer Adolf Hitler. Lideranças políticas dos partidos de direita não se levantaram diante da presença de Blanlot. Cálculos extra-oficiais indicam que desde a manhã da segunda-feira até hoje ao meio-dia mais de 70 mil pessoas despediram-se do general.
A morte de Pinochet evidenciou velhas divisões que ainda mobilizam setores da sociedade chilena. Enquanto a cerimônia fúnebre era realizada na Escola Militar, na Praça da Constituição, na frente do Palácio de La Moneda, ao pé da estátua do ex-presidente Allende, grupos de militantes de esquerda e parentes das pessoas assassinadas por ordens de Pinochet gritavam palavras de ordem contra o ex-ditador.
"Assassino" e "genocida" eram os adjetivos mais sutis desferidos contra Pinochet. Uma das filhas de Allende, Carmen Paz, realizou uma breve homenagem a seu pai.
Segundo os Carabineros (polícia chilena), duas mil pessoas aglomeraram-se na frente de La Moneda. Elas protestaram contra a demora da Justiça em condenar Pinochet pelas graves violações aos direitos humanos, mas, ao mesmo tempo, celebraram sua morte. Centenas de pessoas realizaram várias cirandas e dançaram alegres pela morte de Pinochet.