Pilatos no credo

Poucas vezes o Brasil teve um ministro da Agricultura de tanto embasamento técnico e científico para conduzir a política da produção agropecuária, tirante os indicativos de ordem econômica que escapam à sua competência, como o próprio reconheceu, que tenha sofrido ao longo da gestão no Ministério da Agricultura um processo de desgaste e desprestígio tão profundo quanto o ministro Roberto Rodrigues.

Personalidade respeitada nos meios do cooperativismo agrícola, seu prestígio e capacidade de trabalho o levaram a presidir a referida organização mundial, período que soube utilizar com o amplo conhecimento adquirido na vivência diuturna com o mundo das grandes transações comerciais de commodities agropecuárias, para tornar-se o maior divulgador do agronegócio no Brasil.

Rodrigues também paga o alto preço de ser o ministro da Agricultura e Abastecimento no curso da maior crise econômica do setor nos últimos 40 anos, quando a agricultura chega a seu maior impasse histórico com o déficit de R$ 30 bilhões, referente à diferença verificada nos preços pagos aos produtores no intervalo entre o plantio e a colheita.

Simplesmente, o ministro não tem o que dizer aos produtores rurais, reconhecendo que a taxa de juros e as questões cambial e monetária, elementos importantes para resolver em parte a crise atual, são itens peculiares ao âmbito da área econômica do governo, sobre a qual tem influência irrelevante e não solicitada.

Nessa quadra, o responsável pela execução duma política da produção que protagonizou o crescimento dos volumes exportados e o elogiável ingresso de divisas, até sofrer o impacto negativo da política cambial, posta-se diante dos produtores que atenderam a convocação como autêntico Pilatos no credo, limitando-se a afirmar que o pacote a ser lançado amanhã pelo presidente Lula para socorrer a agricultura ?é positivo, mas seguramente não resolverá todos os problemas?.

Com pouco mais de meio ano de trabalho e à vista do processo eleitoral que retranca o andamento da administração pública, cuja principal característica jamais foi a pressa, Roberto Rodrigues antecipa a condição de ex-ministro, descartado da forma mais humilhante pelo inatingível poder de veto da equipe econômica. Mesmo assim, com a decência de formular melhor sorte ao sucessor na Esplanada.

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