Picanha salgada

Autoridades da Comissão Européia, órgão governativo da União Européia, encarregadas da execução das políticas comunitárias de saúde, não abriram mão da proposta entregue ao governo brasileiro para a seleção de 300 fazendas aptas à exportação de carne bovina in natura para o citado mercado.

A recomendação foi reiterada no meio da semana, durante reunião em Bruxelas, com a participação de Inácio Kroetz, secretário de Defesa Agropecuária do Ministério da Agricultura e Abastecimento (Mapa). O técnico levara na bagagem uma lista de 520 propriedades e tentou convencer seus interlocutores quanto à aceitação da lista, mas teve de se contentar com uma resposta negativa.

Como se sabe, a primeira providência do Ministério da Agricultura, ao receber o pedido de Bruxelas, foi remeter às autoridades sanitárias da União Européia uma lista de 2,6 mil propriedades, talvez, dando a entender que o País possui muito mais de três centenas de propriedades dedicadas à pecuária de corte em condições sanitárias absolutamente compatíveis com as exigências do mercado externo.

A reação da comunidade européia foi imediata e a lista reduzida para 300 propriedades, incumbência que mesmo assim o governo procrastinou o quanto foi possível. Nesse ínterim, o próprio ministro Reinhold Stephanes revelou em audiência pública convocada pelo Senado, que exportadores brasileiros embarcaram para o mercado europeu, carne originária de rebanhos rastreados e não rastreados pelo Sisbov, fato que acabou conferindo respeitabilidade à determinação do corte das exportações.

Os analistas de mercado afirmam que a admissão de Stephanes apenas reforçou a decisão da Comissão Européia de limitar a 300 o número de fazendas selecionadas pelo Ministério da Agricultura, numa representação de apenas 3% das 10 mil unidades cadastradas pelo sistema de rastreamento de bovinos implantado pelo governo. Uma fonte do bloco teria afirmado aos jornais que o ministro brasileiro referendou o que na Europa já se conhecia.

A reunião de Bruxelas não serviu para alterar o conceito da União Européia sobre a carne brasileira, e se houver alguma modificação favorecendo a retomada dos embarques para o referido mercado, ela somente será anunciada após a visita da missão técnica que deverá chegar ao Brasil no próximo dia 25. A missão pretende inspecionar uma amostragem de 30 a 40 propriedades escolhidas dentre as 300 da lista, numa verdadeira operação pente-fino. A suculenta picanha brasileira, ao que parece, ainda está distante do consumidor do Velho Mundo.

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