Discutir as grandes questões do Brasil é, sem dúvida, um dos objetivos de uma campanha eleitoral para presidente da República. Mas o eleitor, freqüentemente alheio aos problemas fundamentais, reage em função de coisas emergenciais. As que lhes estejam mais próximas que a dívida externa, dos programas de longo prazo na educação ou a infra-estrutura para a ampliação da atividade industrial. As estradas, por exemplo, formam um bom exemplo. Com a agravante que se a estrada é ruim e tem buracos, pouco interessa ao eleitor transeunte – abaixo a departamentalização! – se tais buracos são do governo municipal, estadual ou federal.
Nossos caminhos refletem, mais ou menos, o abandono a que está relegada a nação. Para explicitar a assertiva, fixemo-nos apenas num: quem vai à tradicional e histórica Lapa tem exatamente essa sensação: no abandono em que se encontra o caminho, não há governo. Nem municipal, nem estadual, nem federal, que a pouca-vergonha pega a todos. A começar pela BR-116, onde a rodovia desemboca aos trancos e barrancos, passando pela industrializada Araucária, a estrada que conduz à Lapa (e para além dela) é uma verdadeira picada, que desperta raiva, revolta e pena do patrimônio rodante. Quando não produz prejuízo e, naturalmente, atenta contra a segurança dos que vão e dos que vêm – muitos trabalhadores, estudantes, turistas e caminhões que transportam riqueza e negócios.
Por aquela estrada já passaram ministros, governadores, gente importante. Mas a terra de Ney Braga voltou a ser uma cidade sitiada, como nos velhos tempos do Cerco da Lapa. Ali o pessoal do governo (mas que governo?) esqueceu de tudo. Nem mesmo uma simples sinalização, que custa pouco, ou a poda do mato… operação tapa-buracos é coisa riscada do dicionário e das ações públicas custeadas pelos nossos impostos sempre em elevação. Quem vai para algum spa da Lapinha (e vem gente de todo o Brasil), na entrada e na saída enfrenta uma pista de provas que desfaz a calma contraída no retiro bucólico da terra do monge. Tudo graças ao desgoverno e à fraca reação de usuários contribuintes que, se exercessem mais a cidadania, haveriam de bloquear a estrada a mando das regras inscritas no Código de Trânsito Brasileiro. Por absoluta falta de segurança!
Mas o caminho da Lapa é apenas um exemplo. Entradas e saídas da Grande Curitiba estão quase todas assim – retrato do abandono e falta de capricho de quem governa em qualquer nível e da falta de atuação política de nossas representações silenciosas. Já dissemos e repetimos isso outras vezes, mas elas continuam teimosamente silenciosas. E omissas mesmo no aceso do debate eleitoral que atravessamos.
Parece mesmo que as preocupações todas, lá no Planalto e aqui na planície – estão voltadas para as coisas da especulação. O necessário trabalho de arrumação há muito está esquecido. Apesar dos impostos que pagamos e das privatizações que atravessamos. Aliás, dá até para imaginar a campanha a ser feita qualquer dia desses para convencer transeuntes já cansados de tanto sacolejar pelos buracos e calombos acerca das vantagens do pedágio privatizado sobre obra pública já executada e paga.