Picada urbana

Não só o trecho urbano da BR-116, mas os acessos a Curitiba através da importante estrada estão pela hora da morte: buracos dentro e fora da pista, falta de sinalização e toda sorte de perigos a pedestres, motoristas, passageiros e caronas. Quem vem de, ou vai a São Paulo, ou quem sai para o Sul ou dele chega sabe disso. E por mais que se esforce o governo na explicação do descalabro, não convence ninguém: de dia ou à noite, a estrada mais parece uma picada. Se é dia de chuva ou com neblina, a periculosidade dobra, pois além dos buracos, a deficiência na sinalização é completa.

O governo do município de Curitiba já colocou dinheiro bom dos contribuintes ao longo da estrada. Foi antes da eleição passada, mas ficou nisso. O projeto BR-Vida, em dois ou três cruzamentos, deu argumentação para a busca de votos, mas foi insuficiente para prosperar no mesmo cuidado que dizia ter para a preservação da vida que por ali circula com intensidade além da normal. A BR-116 nas cercanias da capital paranaense continua a ser uma espécie de “muro da vergonha”. E no desgoverno em que está, pouco interessa o debate sobre a quem cabe a responsabilidade.

A culpa, segundo se diz, é do Denit, nome pouco conhecido que significa Departamento Nacional de Intra-Estrutura de Transporte – o antigo Departamento Nacional de Estradas de Rodagem (DNER) com roupagem nova, bombardeado este que foi de morte pelas denúncias de corrupção. Dizem que o abandono da estrada é decorrente da demora na transferência de recursos do órgão extinto para o novo órgão, igualmente vinculado ao Ministério dos Transportes. Uma piada. A burocracia pode mais que a emergência; a irresponsabilidade fala mais alto que o dever; a falta de respeito ao contribuinte toma o lugar da vergonha.

Os depoimentos colhidos recentemente pela reportagem deste jornal não precisam reforço: se você desvia de um, cai em outro, dizia um motorista indignado, enquanto outro considerava que quando chove e os buracos ficam cheios d’água, o veículo pode até capotar se o motorista não tiver experiência. Além do risco de vida, há prejuízos econômicos de monta. O grande movimento impõe, por outro lado, homéricos congestionamentos que são atraso de vida, perda de tempo e prejuízo certo.

O problema está vinculado a outra estrada-problema, uma vez apontada como a solução do caso: o Contorno Leste, que deveria estar aberto ao tráfego já há muito tempo. Desviará, segundo alguns cálculos, perto de metade do movimento hoje registrado sobre a BR-116 dentro de Curitiba. Mas, embora todo o trecho esteja pavimentado e pronto para uso há muito tempo, duas ou três pendências judiciais se arrastam o quanto podem ante a incompetência negocial dos homens do governo, que misturam democracia com lenidade; paciência com vistas grossas; direitos privados com a causa de interesse público.

É preciso que este problema da BR que virou picada urbana seja urgentemente resolvido. Nem que dele tenha que se ocupar a nossa por vezes desatenta e dividida representação política. O descaso já passou do limite.

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