O PFL deflagrou ontem uma operação urgente para acalmar o governador Cláudio Lembo, que nos últimos dias deu entrevistas alfinetando seu antecessor, Geraldo Alckmin, o pré-candidato ao governo José Serra e o próprio partido. Ontem, o senador Jorge Bornhausen (SC), presidente do PFL, e o senador Marco Maciel (PE), muito ligado a Lembo, por telefone, e o prefeito Gilberto Kassab, ao vivo, lhe pediram para acabar com as ironias e críticas veladas aos aliados.
Na segunda-feira Bornhausen desembarcará em São Paulo à frente de uma força-tarefa que vem prestigiar Lembo. À guisa de apresentar-lhe oficialmente o pré-candidato a vice, o senador José Jorge (PE), virão o líder do PFL na Câmara, Rodrigo Maia (RJ), e o deputado Vilmar Rocha (GO), presidente do Instituto Tancredo Neves. Bornhausen caracteriza o encontro – que tem o claro objetivo de incensar Lembo – como "uma visita de solidariedade".
Metralhadora – Nos últimos dias, o PFL se assustou com o matraquear crescente da metralhadora giratória que Lembo passou a manejar. Em seguidas entrevistas, ele produziu tiradas irônicas contra Alckmin, Serra e o próprio PFL, sugerindo que eles o abandonaram no pior da escalada de violência paulista.
Ontem, com uma nova entrevista no mesmo diapasão, Lembo passou da conta. De Joinville, Marco Maciel e Bornhausen, que estavam juntos, telefonaram e pediram mais discrição e cuidado com as palavras.
De Belém, ligou Alckmin, para delicadamente perguntar se o governador precisava de alguma ajuda, uma indicação de desconforto com as novas ironias. Kassab também interveio para contemporizar.
Lembo, tido como um político discreto e íntegro, é também um piadista nato, compreendem seus aliados. Mas nos últimos dias resvalou claramente para um tom irônico que se distancia do estilo pefelista de fazer política. Procurado por correligionários para analisar a situação, Maciel demonstrou impaciência e desconforto com o tom rascante de Lembo.
O comando pefelista entende que Lembo, um político discreto e acanhado, "mudou muito" no enfrentamento da crise. A queixa de ter sido "abandonado" é devolvida por um dirigente do PFL – ele é o governador, a ele cabe enfrentar as crises.
Além de conter as críticas, a cúpula do PFL quer minimizar a exposição do governador, que se transformou em pára-choque da crise. Nas conversas do comando pefelista, duas expressões marcaram a catarse de Lembo. Uma: "ele nunca foi assim"; outra: ele tem feito o papel de "pé-de-cabra" do PT para ferir a pré-candidatura Alckmin.
Um dirigente do PFL a quem começou a faltar paciência depois de ler a última entrevista do governador, disse ontem ao Estado que o projeto do partido com o PSDB não pode ser comprometido pelo estresse de um governador em dificuldades.
A comitiva que visitará Lembo na segunda-feira lhe pedirá mais ação, menos exposição pública e entrevistas. Mas a recomendação que o comando do PFL mais gostaria de transmitir ao governador é que deixe de ser o porta-voz da crise, para evitar que as repercussões se voltem diretamente contra ele e o partido. A cúpula quer sugerir que ele governe em low profile e adote um porta-voz para as declarações públicas, que devem ser mais cuidadosas.