A Polícia Federal prendeu hoje, no Recife e em Curitiba, quatro advogados e o funcionário de um escritório de advocacia, acusados de formação de quadrilha, corrupção ativa, tentativa de estelionato, tráfico de influência e tentativa de crime contra o sistema financeiro nacional. A operação, chamada de Big Brother – devido às iniciais do Banco do Brasil, uma das instituições que seriam lesadas – foi iniciada há cerca de dois anos.

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De acordo com o delegado de Repressão a Crimes Fazendários, Omar Gabriel Haj Mussi, os suspeitos tentavam utilizar títulos da dívida pública da Eletrobrás e da Petrobrás prescritos ou com autenticidade questionada para retirar valores em nome de "laranjas". Como eles teriam conseguido os títulos ao portador ainda é objeto de investigação. No Banco do Brasil, eles teriam tentado aliciar gerentes com ofertas de propinas para que realizassem a operação sem seguir as normas bancárias.

Além disso, a PF investiga se juízes que concederam tutela antecipada para o pagamento, sem ouvir as empresas emitentes, estariam envolvidos, assim como funcionários que seriam aliciados para fraudar o procedimento de distribuição. "Certamente havia juízes que assinavam, mas as circunstâncias estão sendo investigadas", disse o delegado.

Segundo Mussi, os juízes que emitiram as ordens são da Justiça Estadual, que não seria competente para apreciar essa ação. "Sustentam que é matéria juridicamente controversa", afirmou. No Paraná, a Eletrobrás é ré em 41 ações semelhantes. Em dois casos registrados pela PF os valores chegam a quase R$ 800 milhões.

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As investigações iniciaram quando a Gerência de Segurança e Inteligência do banco foi informada do oferecimento a um gerente de propina de US$ 3 milhões. O golpe, na época, envolveria R$ 90 milhões.

O delegado Mussi informou que, caso o dinheiro fosse liberado, a intenção era distribuí-lo em várias contas, possivelmente de "laranjas", para dificultar o rastreamento. As operações estariam sendo tentadas no Paraná, Maranhão, Pernambuco, Goiás, Amazonas, Alagoas e Pará.

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Para a PF, o mentor é o advogado João Bosco de Souza Coutinho, que mora em Recife e foi preso naquela cidade. O braço paranaense teria o presidente da seccional da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) em Curitiba, Michel Saliba, os advogados José Lagana e Silvio Carlos Cavagnari, além do funcionário do escritório de Saliba, João Marciano Odppis. O advogado de Saliba, René Dotti, afirmou que seu cliente foi procurado para propor uma ação de compensação de débitos com créditos oriundos da Eletrobrás, mas que não chegou a propô-la, tendo repassado a Lagana, que trabalha no mesmo escritório.

O advogado de Lagana e de Cavagnari, Cláudio Daledone, ainda não tinha conversado com os clientes na tarde de hoje assim como o advogado de Odppis, Rodrigo Muniz Santos. Além das cinco prisões, foram apreendidos vários documentos, computadores armas e US$ 50 mil em dinheiro. Segundo a PF, Coutinho já estaria respondendo a ação penal em Goiânia onde, em 2003, R$ 90 milhões chegaram a ser retirados do Banco do Brasil, mas depois foram reintegrados aos cofres públicos.