Petróleo no fim?

Extensa matéria assinada por Carola Hoyos, do Financial Times, foi reproduzida no Brasil pelo jornal Valor Econômico na edição da última quarta-feira. Abordando os variados aspectos da indústria petrolífera mundial, o referido texto é não apenas leitura obrigatória de todos quantos têm algum interesse pelo assunto, mas fonte de consulta por parte de executivos de companhias ligadas ao setor, analistas e dirigentes políticos de um mundo que se encontra no limite das preocupações quanto ao futuro imediato do combustível mais utilizado por veículos automotivos.

Com o preço por barril oscilando ao redor de US$ 130, mais de 100% acima do valor médio praticado há uma década, o mundo convive com o fantasma do fim da era dos hidrocarbonetos. Segundo Carola ?muitos no setor agora aceitam que as restrições da oferta estão moldando tanto os preços quanto a demanda desenfreada?, sendo esta a bandeira de maior visibilidade dos que reivindicam o acréscimo dos investimentos para reduzir o nível de inquietação anotado em todas as discussões, cujo tema é a produção de energia. E tais preocupações deverão crescer, tendo em vista que os ministros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) prevêem que os preços poderão chegar a US$ 200 em dois anos.

O foco das atenções generalizadas dos analistas do mercado de petróleo volta-se para a Arábia Saudita, maior produtor e exportador individual do mundo, que comunicou a suspensão dos planos de aumentar a capacidade de produção de seus campos. A produção atual é de 12,5 milhões de barris/dia, mas o ministro saudita de Energia, Ali Naimi, não acena com a menor garantia de que a capacidade produtiva aumente no próximo ano, mesmo com a estimativa de investimentos superiores a US$ 20 bilhões.

Este poderá ser um dos sintomas que os analistas começaram a incluir em suas avaliações, de que depois de 75 anos de extração o maior depósito de óleo do planeta começou a dar sinais de exaustão. Existem muitos outros estudos sobre o potencial das reservas mundiais de petróleo, segundo Carola, mas o balanço não é nada tranqüilo. Escreveu ela que ?o mundo depende de apenas uns poucos gigantescos, antigos e decaídos campos de petróleo e, quase nada que se iguale a eles foi descoberto desde a década dos 70s?. De cada cinco barris de petróleo consumidos a cada dia no mundo, um é extraído de um campo com mais de 40 anos de atividades. ?Nenhum campo descoberto nos últimos 30 anos foi capaz de produzir mais que 1 milhão de barris/dia, e o número e o tamanho dos campos descobertos desde então vêm encolhendo muito?, acrescentou, tornando ainda mais aflitiva uma situação já carregada de instabilidades.

A Agência Internacional de Energia (AIE), órgão que fornece assessoria aos países consumidores estima que a demanda mundial de petróleo, em sete anos, será de 100 milhões de barris diários. E na altura de 2030, 15 anos depois, a satisfação da demanda exigirá mais 16 milhões de barris a cada 24 horas, o que torna cada vez mais sombrias as previsões dos executivos acostumados a trabalhar com a hipótese do ?petróleo fácil?. Dentre as causas que alimentam o pessimismo de muitos estão barreiras políticas, como as freqüentes agitações na Nigéria, as perdas oriundas da nacionalização do setor de energia na Rússia e o recrudescimento da crise internacional vivida pelo Iraque, com o comprometimento de seu potencial energético. A análise de Carola Hoyos enfatiza que a conjuntura adversa impede a exploração dos 2,4 trilhões a 4,4 trilhões de barris remanescentes nos respectivos países.

O mundo do petróleo delineia um futuro incerto, mas estimula o crescimento do interesse geral pelo desenvolvimento da produção de etanol e biocombustíveis, da qual o Brasil é um país vanguardeiro. 

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