A Petrobrás iniciou na tarde de hoje uma complexa operação para tentar salvar a plataforma de produção de petróleo P-34, que corre risco de naufragar na Bacia de Campos, região produtora do litoral Norte do Estado do Rio.
À noite, a empresa começou a bombear água do mar para dentro dos tanques de armazenagem de petróleo da embarcação que estavam vazios. A projeção é de que serão necessários 5 milhões de litros de água para tentar estabilizar o navio.
A plataforma está inclinada para o lado esquerdo em um ângulo de 32º porque, depois de uma pane no sistema elétrico, cerca de 11 milhões de litros óleo que estava nos tanques do lado direito se movimentaram no sentido contrário, provocando o adernamento.
No meio da tarde, sete técnicos da estatal – três deles alpinistas – embarcaram na plataforma para tentar instalar um tubo para permitir o bombeamento para dentro da embarcação.
Por volta de 20h30, a equipe conseguiu fechar as válvulas de isolamento dos tanques. Em seguida, a água passou a ser bombeada por meio da tubulação conectada a um rebocador capaz de captar água do mar.
O gerente de Segurança, Meio Ambiente e Saúde, Rui Fonseca, afirmou que o período de 12 a 20 horas a partir do início do bombeamento de água será ?o mais importante? para analisar o sucesso da operação. Ele informou que os técnicos estão otimistas quanto ao salvamento.
?A plataforma está totalmente estabilizada. Estamos com fontes auxiliares de energia, não está entrando água no navio e não houve vazamento de óleo, mas estamos preparados para atuar caso seja necessário. O navio adernou em função do desbalanceamento?, afirmou Fonseca.
A previsão da empresa é que a operação faça com que o nível de adernamento baixe para 12º, o que permitiria o restabelecimento do sistema elétrico da plataforma. Um rebocador será utilizado para fornecer a energia, de acordo com o gerente-geral de exploração e produção para as regiões Sul e Sudeste, Carlos Tadeu Fraga.
Para o especialista em engenharia naval da Coordenação de Programas de Pós Graduação de Engenharia da UFRJ, Segen Estefen, a estratégia é acertada. Há o risco, porém, de que o navio afunde um pouco mais com o peso da água que será bombeada para os tanques.
?O lado esquerdo da plataforma está a apenas um metro e pouco para fora d?água. Se o navio afundar mais, pode entrar água no convés e afundar de vez?, alertou Estefen. Ele lembrou porém, que a Petrobrás tem meios de simular o efeito provocado pelo bombeio de água nos tanques da plataforma.
De fato, um grupo de técnicos da empresa passou esta segunda-feira em um laboratório no prédio da estatal no Maracanã zona norte do Rio, estudando as possibilidades de salvamento com o uso de maquetes eletrônicas.
Para Estefen, o fato de ser uma plataforma com ?turret? sistema de ancoragem segundo o qual todos os cabos ficam presos na proa, permitindo que a embarcação gire segundo as condições do mar – pode dificultar o processo.
?Há uma força enorme puxando a plataforma para o fundo. Além das âncoras, são 34 dutos que fazem um peso enorme?, disse.
A Petrobrás instaurou uma comissão de investigação para descobrir as causas do acidente. Outras três comissões externas foram formadas: uma com Agência Nacional de Petróleo (ANP) e Departamento de Costas e Portos (DCP), outra pelo Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia (Crea) também formou uma segunda comissão e uma terceira pelo Sindicato dos Oficiais da Marinha Mercante. A Federação Única dos Petroleiros (FUP) pediu para participar da comissão que será formada pela Petrobrás.
Para o presidente do Sindicato dos Petroleiros do Norte Fluminense, Fernando Carvalho, ainda restam dúvidas sobre o que provocou o adernamento da unidade. ?As válvulas de fundo, onde estão so tanques, se abriram todas. Isso não foi explicado. É uma ocorrência anormal e não há explicação técnica?, questionou.
Para Estefen, da Coppe, os acidentes da P-36, que naufragou em março do ano passado, e o de anteontem têm uma coisa em comum: problemas no sistema de controle das plataformas. Segundo ele, nos dois casos, o sistema de controle ?jogou contra?. ?Na P-36, jogou água para dentro da plataforma. Agora, abriu as válvulas dos tanques?, disse.
Dos funcionários que estavam na P-34 durante o acidente, 70 já estão em terra firme e outros seis, em plataformas próximas à que afundou. Os petroleiros e os oficiais da Marinha Mercante acusam de negligência.
?É sintomático que Petrobrás tenha sofrido acidentes seguidos com problemas semelhantes. São fruto de políticas equivocadas, que não privilegiam a manutenção e vistoria?, disse Carvalho. Para Estefen, é necessária uma nova visão dos sistemas de segurança das plataformas.