Pouco mais de dois anos após criticar, na campanha eleitoral para a Presidência, a contratação de plataformas de petróleo no exterior, o governo Luiz Inácio Lula da Silva voltou atrás e decidiu buscar na China uma plataforma de produção de petróleo para o campo de Piranema, em Sergipe. Outras duas unidades, para o campo de Golfinho, no Espírito Santo, também serão construídas em estaleiros estrangeiros. A estatal alega que precisa das plataformas o mais rápido possível e não há capacidade ociosa em estaleiros nacionais. Mas os críticos dizem que a empresa está mandando empregos e divisas para fora do País – justamente a principal reclamação de Lula no primeiro programa do horário eleitoral gratuito, em 2002.
O contrato para o afretamento da plataforma de Piranema foi assinado esta semana entre a Petrobras e a companhia norueguesa Sevan Marine. Ontem, o presidente e o diretor de Exploração e Produção da estatal, José Eduardo Dutra e Guilherme Estrella, foram à China acompanhar as obras da embarcação, que deve ser entregue em 2006. "Essa plataforma já estava com as obras iniciadas e isso facilita para que entre em operação mais cedo", explicou o diretor de Serviços, Renato Duque, que assumiu interinamente a presidência da estatal durante a viagem de Dutra.
"Quando o governo Fernando Henrique afretava plataformas no exterior, todo mundo criticava, dizia que era exportação de emprego e renda, mas o governo Lula tem afretado mais do que seu antecessor", alfinetou o secretário de Energia, Indústria Naval e Petróleo do Rio, Wagner Victer, do grupo do PMDB que faz oposição ao governo petista.
Ainda em campanha, Lula gravou a primeira peça de TV para o programa eleitoral no estaleiro Brasfels, antigo Verolme, em Angra dos Reis. Na época, considerou inexplicável o fato de a Petrobras construir três plataformas no exterior, o que impediria a criação de 2,5 mil empregos e provocaria a remessa de US$ 1,5 bilhão para o exterior. Quando assumiu o governo, determinou a suspensão das licitações pendentes e a inclusão de uma cláusula de conteúdo mínimo nacional nos contratos de compra de plataformas.
Duque argumenta que as situações são distintas. Segundo ele, a Petrobras continua privilegiando estaleiros nacionais para comprar plataformas. Mas, no caso de Piranema e Golfinho, estará afretando as embarcações porque precisa delas em um prazo mais curto.
Os dois campos têm descobertas recentes de boa qualidade do tipo que o Brasil precisa importar para produzir derivados como gasolina, óleo diesel e gás de cozinha. São projetos que se tornaram prioritários no planejamento estratégico da estatal. Pela plataforma de Piranema, a estatal vai pagar US$ 99,5 mil por dia de aluguel. As plataformas de Golfinho, com capacidade para 100 mil barris por dia, estão em fase de contratação.