Petistas não vão se opor a envio de relatório da CPI ao MP

Ainda inconformados com a maneira como foi aprovado o relatório final da CPI dos Correios, petistas que integram a comissão insistem nas críticas ao que consideram "rolo compressor", mas reconhecem que dificilmente conseguirão anular a sessão da noite de quarta-feira. O recurso que pede nova votação foi encaminhado à Presidência do Senado logo depois a aprovação do texto do deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR). Hoje porém, os petistas garantiram que não vão se opor ao envio do relatório de Serraglio ao Ministério Público.

"O não-encaminhamento do relatório compactuaria com uma situação de impunidade inaceitável", diz nota da bancada do PT na CPI distribuída hoje. Os petistas encaminharão um documento paralelo ao MP pedindo a continuação das investigações consideradas prejudicadas com as mudanças finais do relator, que suprimiu alguns pedidos de indiciamento.

De fato, são praticamente nulas as chances de o pedido dos petistas ser atendido pelo presidente do Congresso, senador Renan Calheiros (PMDB-AL). O peemedebista manifestou várias vezes a preocupação com a possibilidade de a CPI acabar sem um relatório final. hoje, Renan disse que analisará "com imparcialidade" e que aguarda a chegada "de todos os elementos". Na próxima segunda-feira, encerra-se formalmente o prazo de funcionamento da CPI.

"O senador Delcídio violou todas as práticas democráticas. Se a Mesa Diretora decidir contra (o recurso), estará referendando essas práticas", disse o deputado petista Jorge Bittar (RJ), que na noite de quarta-feira chegou a xingar o senador petista de "f d.p" e "Judas".

Violação

A bancada do PT diz que foram violados princípios constitucionais e regimentais na sessão conduzida por Delcídio Amaral. Os petistas queriam mais esclarecimentos sobre as mudanças no texto final, o direito de levantar questões de ordem (levantamento de qualquer dúvida sobre o andamento de uma sessão) e a votação de destaques depois da votação do relatório.

Em entrevista conjunta hoje, os petistas levantaram suspeitas sobre os motivos que levaram o relator Osmar Serraglio a fazer uma série de mudanças no texto final. Diante da pergunta se Serraglio atendeu a pedidos de alguns parlamentares em troca de votos a favor do relatório, Bittar respondeu: "É uma suposição que faz sentido, precisa ser checada." Antes, o deputado já tinha afirmado: "Essas modificações estão sob suspeição e os suspeitos são Delcídio, Serraglio e todos que participaram desse cambalacho".

Indignação

Responsável pela sub-relatoria de contratos da CPI, o deputado José Eduardo Cardozo (PT-SP) se disse indignado com a retirada de suspeitos de envolvimento em licitações fraudadas dos Correios e de distribuição de franquias por critérios políticos, em troca de benefícios. "Nunca imaginei que o relator fosse modificar sem indagar nada. O caso que mais me assustou foi o das franquias. O relator tem o dever de explicar o que aconteceu. Gastamos horas, dinheiro público investigando e não sabemos a pedido de quem nem por que foram retirados alguns nomes. Não sabemos sequer todos os nomes que foram retirados. É incrível, mas até agora não tivemos acesso ao texto final aprovado", protestou Cardozo, às 14h30 de hoje.

Cardozo reclamou da retirada dos nomes de Armando da Cunha e João Leite Neto, investigados pela CPI no caso das franquias. Cardozo lembrou que um dos fatos mais graves apurados por sua sub-relatoria foi o saque em dinheiro vivo de R$ 8 milhões feitos por três policiais da conta bancária da franquia Tamboré, aos quais Cunha e Leite são ligados. "Há suspeita de influência política nas franquias e de que a destinação do dinheiro foram pessoas que não queriam aparecer", disse o sub-relator.

Cardozo também não se conforma com retirada dos indiciamentos propostos no caso da licitação de outubro de 2000 que levou à contratação da empresa de transporte aéreo Skymaster. Entre os pedidos de indiciamento, estava o atual presidente dos Correios, Jânio Pohren. "Nunca vi uma licitação com tantos problemas como aquela, era uma concorrência de R$ 280 milhões", disse Cardozo. Os petistas consideram ainda que foi muito amenizado o trecho referente à investigação sobre aplicações financeiras do Instituto de Resseguros do Brasil (IRB) no exterior somando US$ 240 milhões. "Foram prejudicadas investigações que envolvem no total R$ 1 bilhão. Por isso, encaminharemos esses casos ao Ministério Público. Eles precisam continuar a ser apurados", reclamou Ideli Salvatti.

Delcídio

Com exceção de Bittar, os petistas evitaram atacar o senador Delcídio Amaral ou cobrar punições para o companheiro de partido. "Cada dia com sua agonia", citou Ideli Salvatti. Bittar no entanto, afirmou que "o PT deve cobrar explicações públicas pela atitude" de Delcídio. "Chamei (Delcídio) de Judas porque ele traiu práticas democráticas pelas quais nós petistas temos tanto apreço", justificou.

Questionado sobre os motivos que teriam levado o senador a conduzir a sessão com mão de ferro, o deputado respondeu: "Talvez por algum ódio político ao PT, movido por problemas no Estado dele. Ele é candidato ao governo e se desentendeu com o governador Zeca do PT. Além disso, não sei se rolou alguma coisa nos bastidores (da CPI) que nós não sabemos." Sobre a denúncia à Corregedoria da Câmara que o senador pensa em fazer contra Bittar, o deputado desdenhou. "Ele quer passar de infrator a vítima."

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