Na enxurrada de discursos que o presidente Lula começou a derramar sobre as massas mais humildes da população, depois de longo e inexplicável silêncio sobre os escândalos políticos que atingiram o seu partido, suas bases políticas e seu governo, os fatos começam a evidenciar seus equívocos. Lula tem se valido de três argumentos básicos: que é de origem humilde e chegou à Presidência. Sem dúvida, um heróico feito; que a economia brasileira vai bem e os resultados colhidos pelo seu governo seriam melhores do que os alcançados por seus antecessores. E, afinal, mas não finalmente, que as denúncias que estão espantando a nação não passam de mentiras ou manobras da oposição. Torcida de quem acha que ?quanto pior, melhor?.
Entretanto, o primeiro ato mais concreto que as investigações que se fazem em vários órgãos, sejam do Executivo, do Legislativo ou do Judiciário, além das que se procedem dentro do próprio e carcomido PT, apontam como primeiros indiciados José Genoino, Duda Mendonça, Delúbio Soares e Marcos Valério de Souza. A Polícia Federal acaba de indiciar essas pessoas, dando seguimento a inquéritos criminais que desembocarão muito provavelmente em denúncias do Ministério Público e processos civis e criminais. Os números e os nomes se encarregam de, se não desmentir, pelo menos apontar um dos equívocos de Lula, repetido com ênfase em seus eloqüentes discursos de improviso, geralmente em inaugurações de obras, nem todas de iniciativa do seu governo.
José Genoino era presidente do PT. Homem da absoluta confiança do presidente e membro histórico da agremiação. Logo que estouraram os escândalos dentro do diretório nacional, quando foram reveladas estranhas e vultosas negociatas com dinheiro que passou pelas mãos do empresário mineiro Marcos Valério, do tesoureiro do PT Delúbio Soares e não se sabe mais de quem e para quem, negou que houvesse autorizado tais operações e que com elas tivesse qualquer ligação. Não tardou a ser desmascarado, pois foi encontrado o seu aval em nebulosas operações financeiras. Deixou a presidência do PT e sumiu.
Duda Mendonça é o publicitário que fez mágicas, via montagem de imagem pública, publicidade e outros meios de divulgação, com muito dinheiro que declara ter recebido do exterior como pagamento do PT por seus serviços. É também do PT.
Delúbio Soares era tesoureiro do PT nacional. Por ele passava todo o dinheiro e procura assumir sozinho as responsabilidades, como se fosse tão importante a ponto de poder manipular milhões e milhões e indicar para quem deveriam ser entregues. Tem culpa em cartório, mas é também um cordeiro entregue à imolação. Marcos Valério, empresário do campo da publicidade e, pelo visto, da intermediação financeira, pedia empréstimos em bancos e sabe-se lá onde mais, pois acusam-no de arrecadar dinheiro até de governos estrangeiros, entregando as milionárias importâncias ao PT para pagamento de mensalões ou financiamento de campanhas eleitorais petistas e de seus aliados. Se não é filiado ao PT, é pelo menos umbilicalmente ligado ao partido governista. Em suma, este é um escândalo antropofágico. É governista devorando governista e tentando, em vão, pôr a culpa em bichos-papões. Daqui a pouco, se não nos cuidarmos, vão dizer que o leitor é quem é o responsável.
