O açodamento com que o chamado Campo Majoritário, facção que domina com mão pesada os núcleos decisórios do Partido dos Trabalhadores, lançou a plataforma para a recuperação dos direitos políticos suspensos do cidadão José Dirceu de Oliveira e Silva é um tenebroso insight do que poderá ocorrer – no andar da carruagem – em outros interstícios da vida constitucional do País.

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Férreo articulador das linhas de atuação do PT, muito antes da primeira eleição de Lula, credita-se a José Dirceu a gestação do Campo Majoritário, linha ideológica pragmática que passou a dar as cartas na cúpula partidária, cooptando lideranças emergentes ou simplesmente aniquilando-as sob a passagem de potentíssimo rolo compressor.

Tanto é verdade que no governo anterior, até que o destemperado solilóquio do ex-deputado Roberto Jefferson, cujo PTB prossegue lampeiro na chamada coalizão governista, tivesse derribado o castelo de areia, Dirceu era o manda-chuva do governo, a quem o presidente Lula havia confiado a função explícita de primeiro ministro, de resto, inexistente nos regimes presidencialistas.

Reunida neste final de semana no interior paulista, o núcleo íntimo do Campo Majoritário começou a preparar a estratégia para o próximo congresso nacional do partido. Tudo estaria de conformidade com a prática interna dos grêmios políticos, não fosse a extrema cupidez de alguns dirigentes em exibir os primeiros matizes do propósito de lutar pela restituição dos direitos políticos do ex-deputado José Dirceu.

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O mais eloqüente dos apólogos da idéia foi o assessor especial da Presidência da República, Marco Aurélio Garcia, um dos fiscais de quarteirão do petismo de resultados, que em memorável lição de maniqueísmo à flor da pele doutrinou que se teve o descortino de não apoiar a cassação de Dirceu, não vê razões para não estar, agora, plenamente à vontade para reclamar indulgência plena ao bravo companheiro.

Uma afronta, no dizer dos primeiros líderes políticos ouvidos, incluindo o senador petista Eduardo Suplicy, a cada dia mais estranho a essa opereta que o PT representa aos olhos aturdidos da nação. Seria importante conhecer, nesse momento, a opinião do procurador-geral da República, Antônio Fernando Souza, que encaminhou ao STF os nomes dos componentes da quadrilha do mensalão, sobre a qual Dirceu teve inegável responsabilidade.

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