Pessimismo popular

O assunto economia sempre interessou aos cidadãos. Mas o conhecimento da matéria é privilégio de poucos. Nos prognósticos, divergem ou erram até os economistas profissionais. Já que se diz que a voz do povo é a voz de Deus, há que se dar algum crédito às pesquisas e ao que revelam sobre o que pensam os cidadãos sobre a matéria. Em especial neste ano em que teremos eleições e pelo menos um provável candidato, o próprio presidente Lula, pretende colocar o desenvolvimento econômico e os avanços sociais como pilares de sua campanha. É o ?abracadabra? de mais um mandato. Os dois temas deverão ser apresentados como campos de vitórias da atual administração em comparação com a anterior, de FHC.

Diante de um eleitorado interessado e nem sempre bem informado, pareceu aos marqueteiros aí residir o segredo do sucesso da desejada reeleição. Há números positivos nos dois campos. O cotejo entre o presente e o passado não parece ideal, pois o que a nação precisa é de uma comparação entre a situação atual e a futura, que não se adivinha, mas se constrói. A poderosa rádio BBC, de Londres, encomendou uma pesquisa em 32 países para saber o que os seus povos pensam da economia. O trabalho foi realizado por empresas independentes, no Brasil pela Market Analysis, que tem base em Florianópolis.

Comparando-se o Brasil com os outros 31 países pesquisados, verifica-se que o nosso País está entre os dez mais pessimistas em relação à economia nacional. Os mais otimistas são Canadá, Índia e Finlândia. Os mais pessimistas, Zimbábue, um país do terceiro mundo, e França, integrante do chamado primeiro mundo.

No Brasil, 67% das oitocentas pessoas entrevistadas em oito capitais disseram que a economia está piorando. Para 27%, está melhorando, e 4% disseram que a situação continua na mesma. Em comparação com pesquisa anterior, as coisas pioraram. Cresceu o pessimismo, pois antes 47% achavam que as condições econômicas estavam melhorando; 39% que estavam piorando, e 12% que tudo estava na mesma. Entre os países da América Latina, o Brasil é o que registra mais opiniões negativas sobre a economia nacional. Depois, vem o México e, a seguir, a Argentina. Na Argentina, 51% dos entrevistados afirmaram que a situação está melhorando.

Um dado curioso e aparentemente paradoxal dessa pesquisa é que, no Brasil, pessimistas que disseram que as coisas vão de mal a pior, ao serem indagados sobre sua situação econômica pessoal, em grande número afirmaram que está melhorando. Em percentuais, 47% dos brasileiros consultados disseram que suas condições econômicas e de suas famílias estão melhorando. Aí, para uma análise mais compreensível, seria necessário dividir os entrevistados por níveis de escolaridade e renda, o que não se sabe se foi feito. E se foi, não foi revelado.

No Brasil, mais da metade dos consultados disse que o Fundo Monetário Internacional exerce uma influência negativa. Já as multinacionais receberam dos brasileiros avaliações positivas. Quando perguntados sobre a imprensa, 60% dos brasileiros consideraram que ela tem uma influência predominantemente positiva. Como Lula, por enquanto, parece ser o único candidato provável, a pesquisa revela alguns de seus ?calcanhares-de-aquiles?. Seu otimismo não é correspondido; sua associação com o FMI não é aplaudida; suas afirmações sobre um espetáculo de crescimento econômico não encontram platéia.

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