Pesquisadores condenam privatização da água

O principal recado dos participantes do I Seminário Internacional Espírito das Águas, realizado nesta sexta-feira (25), em Curitiba, foi a necessidade de uma nova atitude em relação à natureza, para a preservação da vida na Terra. O engenheiro florestal suíço Ernst Zuercher, o índio txucarramae Kaka Werà Jecupè e o pesquisador Franklin Frederick foram unânimes em dizer que o desenvolvimento econômico acelerado e os valores sociais atuais deixaram o mundo em desequilíbrio. "Estamos transformando nosso tempo em mercadoria. A mobilização pela privatização da água é um exemplo disso. Precisamos buscar a recuperação do sagrado na nossa relação com a natureza", explica Frederick.

Promovido pelo Governo do Estado, em parceira com a Universidade Federal do Paraná (UFPR) e Sanepar, o evento reforça as idéias da Organização das Nações Unidas sobre a Década Internacional Água para a Vida (2005/2015). O reitor da UFPR, Carlos Augusto Moreira Júnior, lembrou a importância do trabalho em conjunto, da sociedade e do governo, na construção do conhecimento e na defesa de um meio ambiente melhor para todos.

O secretário de meio ambiente do Estado, Luiz Eduardo Cheida, relatou problemas de mau uso, distribuição e poluição dos recursos hídricos. De acordo com ele, a água não pode ser vista como uma mercadoria e seu tratamento e distribuição não podem visar ao lucro, reforçando a postura adotada pelo governador Roberto Requião. Cheida lembrou o problema do Paraná com relação ao assoreamento de rios e à contaminação do meio ambiente por agrotóxicos e pelo lixo. "Para resolver esses problemas, as ações precisam ser integradas. A discussão de hoje fortalece essa integração", disse.

Do evento, participaram também a diretora de Meio Ambiente e Ação Social da Sanepar, Maria Arlete Rosa, o presidente do IAP, Raska Rodrigues, o secretário de assuntos estratégicos, Nizan Pereira, e o representante da Secretaria Estadual de Agricultura, Felipe Farhat.

Alerta

O índio txucarramae Kaka Werà Jecupè fez a platéia cantar à moda indígena, "para acordar seus corações e reverenciar a mãe água". Kaka relembrou as tradições de seu povo e a relação dos indígenas com a terra e com a água. "É preciso tomar cuidado com os olhos internacionais sobre as reservas de água no Brasil. São olhos tortos, com interesses de dominação, de lucro, de manipulação. Se hoje vemos a dimensão da guerra pelo petróleo, podemos imaginar como serão os conflitos pela água", alertou.

Zuercher apresentou estudos sobre a "árvore cósmica", realizados na Alta Escola Especializada de Engenharia e Arquitetura da Madeira, em Biel, Suíça. Segundo ele, há uma relação cósmica entre a árvore, o homem e o ritmo de vida no Planeta. O engenheiro apresentou dados sobre fenômenos naturais, como as fases da lua, por exemplo, em relação ao crescimento de plantas, ao nascimento e falecimento de seres humanos, demonstrando que há harmonia entre os ciclos de vida e morte na Terra. Para Zuerche, muitas das descobertas podem trazer a necessidade de revisão de alguns conceitos científicos e proporcionar uma intimidade maior entre a ciência e a religião. "Podemos, a partir desses estudos, perceber que há um ritmo harmônico da vida na Terra", disse.

Blasfêmia

"Em japonês, para escrever blasfêmia, utilizam-se ideogramas de ‘água’ e de ‘vender’", explicou o pesquisador Franklin Frederick, da Academia Livre Internacional das Águas. Para ele, o conceito é correto, porque "privatizar a água é perder a relação de respeito com a natureza". "Faço parte de um grupo que busca a recuperação do sentido do sagrado em relação à água. Relação mantida pelos indígenas ainda hoje, mas que foi perdida por boa parte da sociedade". 

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