Pesquisa feita com 930 diretores de empresas do país mostra que a expectativa dos empresários brasileiros sobre o desempenho da economia é a mais baixa desde 2003. A Sondagem Conjuntural da Indústria de Transformação, divulgada hoje (27) pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), mostra que 27% dos entrevistados acham que houve enfraquecimento da demanda em julho. O resultado é o pior desde que, no mesmo mês de 2003, 8% dos empresários consideraram a demanda forte e 42% fraca.
"Chegamos a julho com números bem piores do que nos últimos trimestres, mas ainda bem melhores do que em julho de 2003, quando estávamos saindo de uma recessão", acrescentou o economista da Fundação Getúlio Vargas, Aloísio Campelo. Para ele, "a política gradualista monetária de maior austeridade desde setembro do ano passado teve impacto sobre a indústria e houve o desaquecimento esperado".
A parcela de empresas que se dizem com estoques excessivos saltou de 10% em abril para 14% em julho, a maior desde julho de 2003 (22%). Mas, na avaliação de Aloísio Campelo, este acúmulo de estoques "não é preocupante" a ponto de influenciar em uma diminuição forte do crescimento do setor. "A indústria ainda está em crescimento baixo, mas positivo e as previsões para os próximos indicam que a indústria volte a crescer ainda no segundo semestre", disse ele.
O desaquecimento e a variação cambial já interferem nos preços. O percentual dos que pensam em aumentá-los em julho caiu em relação a abril (27% contra 43%). A parcela dos que pretendem reduzir os preços passou de 6% para 19% na mesma base de comparação. O economista da FGV acredita que este é o lado bom do desaquecimento da indústria, pois os preços no atacado ficam mais baixos. "No atacado tem havido uma descompressão forte nos preços dos bens intermediários (insumos) e nos bens de capital (máquinas e equipamentos)". Ainda segundo o economista, poucas empresas dizem que vão aumentar preços e no geral da indústria há uma previsão que parece compatível com uma taxa muito baixa de preços no atacado nos próximos meses.
Entre os entrevistados, 44% apostam na melhoria da situação dos negócios nos próximos seis meses, proporção inferior aos 59% que previam o mesmo em julho de 2004. e 17% vislumbram piora. A situação atual dos negócios foi avaliada como boa por 16% das empresas, a menor parcela desde julho de 2003 (9%). Já a proporção dos que a consideraram fraca, de 29%, foi a maior nos últimos dois anos (50%).
Na avaliação de Aloísio Campelo, as respostas dos empresários ainda não refletem preocupação se a crise política vai abalar o crescimento econômico. Segundo ele, o sentimento dos empresários em relação aos próximos meses vem piorando gradualmente, mas tem a ver com a perspectiva de redução da margem de lucro como conseqüência da política econômica (juros altos e valorização do câmbio).
As expectativas quanto ao emprego industrial também diminuíram. No trimestre julho-setembro deste ano, 24% das empresas pretendem contratar e 15% reduzir o contingente de mão-de-obra, novamente o pior resultado na comparação com o mesmo período de 2003, quando 35% dos empresários pretendiam contratar mais empregados e 8% diminuir. A Fundação Getúlio Vargas ouviu 930 empresários entre 28 de junho e 25 de julho.