Uma pesquisa encomendada pelo Ministério da Saúde revela que o brasileiro está longe de ter um estilo de vida saudável. Três em cada dez brasileiros adultos não fazem nenhum tipo de exercício, nem mesmo a prosaica faxina doméstica. Em cada grupo de dez adultos, quatro têm excesso de peso e outros quatro consomem carnes gordas. Muitos ainda tomam leite integral, em vez do desnatado. Ao mesmo tempo, pouco são os que adotam uma alimentação saudável, rica em hortaliças ou frutas. Para se ter uma idéia, a capital campeã no consumo de frutas e hortaliças é Porto Alegre. O posto foi conquistado com porcentual bem aquém do que seria considerado ideal: menos de 35% incluem esses itens rotineiramente no cardápio.
?É preciso promover uma cultura de saúde entre a população?, afirmou o coordenador do trabalho, o pesquisador da Escola de Saúde Pública da Universidade de São Paulo, Carlos Monteiro. Caso contrário, a tendência da mortalidade por doenças crônicas, já bastante alta, só deverá crescer. Atualmente, 61% das mortes que ocorrem no País são causadas por doenças não transmissíveis. Destas mortes, 27,5% são provocadas por distúrbios cardiovasculares. Sem falar no impacto econômico: hoje, R$ 10,9 bilhões são gastos anualmente com consultas, exames, internações e cirurgias provocadas por doenças não transmissíveis.
Cultura de saúde, afirma Monteiro, é mostrar que a prática de exercícios físicos não apenas reduz o risco de obesidade, mas pode ser um bom aliado contra o câncer. O mesmo acontece com o consumo de frutas e verduras. Além de ajudar a manter o peso em dia, tais itens na alimentação também reduzem o risco de alguns tipos de câncer. O argumento de que tais alimentos são mais caros não se sustenta, diz o pesquisador. ?Pode valer para frutas ou hortaliças. Mas o arroz e feijão, uma dupla imbatível para a saúde, há tempos vêm minguando no prato do brasileiro.
A maior surpresa da pesquisa foi o grande número de pessoas sedentárias. As altas taxas de excesso de peso e obesidade – também bastante preocupantes – já haviam sido constatadas em uma pesquisa domiciliar, feita em 2003 pelo Ministério da Saúde e IBGE. Excesso de peso é quando uma pessoa está com índice de massa corporal (IMC) igual ou superior a 25, enquanto a obesidade é a partir de 30. O índice é calculado pela divisão do peso pela altura ao quadrado.
Dieta
No Rio, onde 48,3% da população aparece com excesso de peso, o cardiologista Francisco Cabral, de 57 anos, se depara todos os dias com coronárias entupidas dos pacientes que tem de operar, mas só recentemente encontrou ânimo para levar a sério uma dieta que o ajude a eliminar parte dos 122 quilos que ostenta. ?Com certeza obesidade é uma doença. Mas o tratamento é o mais difícil que existe?, brinca. Após tentar várias dietas, Cabral iniciou o programa Calorias Inteligentes, que faz acompanhamento pela internet. Começou há duas semanas a pesar as quantidades e a controlar os alimentos. Perdeu 2 quilos. ?Acho que o resultado foi excepcional?, avalia.
Já em Salvador, onde há o menor consumo de cigarros, o engenheiro Adilson Galvão, de 35 anos, tem o hábito de praticar exercícios físicos regularmente, diz manter alimentação saudável – e não fuma. Diz que, desde criança, segue o exemplo dos pais de não pular refeições e de praticar exercícios. ?Meu pai, de 65 anos, continua indo para a academia diariamente, às 6 horas?, conta. ?Dá para conciliar trabalho, família, exercícios e alimentação. Basta querer?, diz ele, que mede 1,83 metro e pesa 83 quilos.