Levantamento da Secretaria de Pesquisa e Opinião Pública do Senado durante a CPI dos Bingos constatou uma grande resistência à legalização desse tipo de jogo. Apenas 19,3% dos entrevistados declararam-se a favor da legalização das casas de bingo e das máquinas caça-níqueis. Se o jogo fosse legalizado, apenas 15,2% disseram que freqüentariam os locais de aposta. Disseram-se indiferentes à legalização 30% dos entrevistados e 48,2% foram contra a idéia. Apesar do resultado da pesquisa, o relator da CPI, senador Garibaldi Alves (PMDB-RN), incluiu no relatório final uma detalhada proposta de regulamentação dos bingos, a ser encaminhada à Comissão de Turismo do Senado.
"Se eu não tivesse dúvida, teria encaminhado um projeto direto para tramitação no Senado. Sou pessoalmente favorável à legalização, mas acredito que o debate deve continuar e por isso encaminhei à comissão", justifica Garibaldi. Vários senadores repudiaram a proposta do relator. Mesmo os que votarão a favor do relatório, como Romeu Tuma (PFL-SP), farão ressalvas de que são contrários à regulamentação.
A pesquisa foi feita, por telefone, com 1.072 entrevistados em 111 municípios dos 26 Estados e Distrito Federal. Foram ouvidos brasileiros de 16 anos ou mais, entre 16 e 25 de maio
Até na hora de responder sobre os pontos positivos do funcionamento das casas de bingo os entrevistados mostraram contrariedade. A resposta mais escolhida, por 43,1%, foi "não tem característica positiva".
Quarenta por cento citaram a geração de empregos como positivo. Entre os aspectos negativos, apenas 8% disseram que eles não existem. O pior dos bingos, para 35,3%, é o "incentivo ao vício" seguido da "lavagem de dinheiro", para 31,2%.
"Na questão dos bingos as pessoas ainda confundem com cassinos. E entra também o espírito do catolicismo", acredita Garibaldi. Não apenas os católicos, mas os evangélicos são radicalmente contra o jogo. O mais provável é que o relatório de Garibaldi seja rejeitado, já que os governistas discordam de vários pontos além da regulamentação do jogo, e têm maioria na CPI. O autor do texto a ser votado no lugar do relatório (chamado voto em separado) será o senador governista e evangélico Magno Malta (PL-ES).
A proposta do senador do PL irá na direção oposta à do relator: pedirá o fechamento das casas de bingo que funcionam graças a liminares. "Não voto sempre com o governo, tanto que propus a CPI dos Bingos. Eu queria a investigação da jogatina no Brasil, mas isso não aconteceu. Ainda bem que há também um componente religioso. Mas falo com o conhecimento de que, se o bingo for legalizado, o Brasil será um paraíso para a contravenção", diz Malta.
A pesquisa mostra a ampla preferência pelas loterias. Enquanto apenas 14,8% dos entrevistados disseram já ter freqüentado uma casa de bingo pelo menos uma vez, 58,3% apostaram pelo menos uma vez na loteria. A maioria (27,7%) disse apostar "raramente".
Na hipótese de legalização dos bingos, a maioria dos entrevistados (77,6%) defendeu que existam, nos municípios, áreas especiais para a instalação das casas de jogo. Mais da metade (50,8%) defendeu que os bingos fossem administrados pelo governo, no caso de legalização, e não pela iniciativa privada.