A imagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o sistema político brasileiro em geral já começou a sofrer abalos significativos junto a líderes empresariais, de acordo com uma pesquisa divulgada, nesta quinta-feira, pelo Ibope.
No levantamento, que contou com a participação de 401 executivos que ocupam cargos de alto poder de decisão, a maior parte dos entrevistados atribui a Lula características como inexperiência (80%), despreparo (69%) e ineficiência (64%).
Além disso, uma parcela significativa dos participantes também descreve o presidente como dependente e indeciso (49%), corrupto (47%), alguém que não cumpre o que promete (47%), incompetente (45%), inseguro (42%), não confiável (35%), desonesto (30%), sem determinação (26%) e ultrapassado (18%).
Entre as características positivas do presidente citadas pelos entrevistados estão principalmente, bem intencionado (52%) nacionalista (47%), preocupado com o social (46%) e trabalhador (20%). Em todos os outros casos, os votos positivos representaram menos de 15% dos participantes.
Segundo o diretor executivo do Ibope Solution, Nelson Marangoni, os dados mostram que apesar de os empresários ainda reconhecerem características positivas no presidente, os elementos negativos têm apresentado um peso muito maior na avaliação de sua imagem. "Persistem, em função da história e do carisma (de Lula), algumas características positivas", explicou Marangoni.
Como reflexo desse abalo, boa parte dos entrevistados também questionou a capacidade de Lula de se reeleger em 2006. Nesse caso, apenas 16% acreditam na reeleição.
Para outros 16% é provável que isso não ocorra, enquanto 46% acreditam que é provável que o presidente não consiga se manter no cargo. Seus concorrentes mais fortes nessa disputa seriam o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (42%), o prefeito de São Paulo, José Serra (22%), o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (13%) e o governador de Minas Gerais, Aécio Neves (10%).
Além disso, 80% dos empresários entrevistados pelo Ibope acreditam que a crise vai interferir na gestão dos negócios, sendo que para 41% esse impacto será muito forte.
"Já está havendo uma preocupação quanto à gestão como um todo da organização", acrescentou Marangoni. Ele lembrou, também, que é provável que essa preocupação esteja ainda mais acentuada atualmente, já que os dados foram coletados até o dia 2 de agosto, antes, por exemplo, do depoimento do publicitário Duda Mendonça à CPI dos Correios, que aproximou a atual crise do Palácio do Planalto.
Mesmo assim o diretor do Ibope insiste que a preocupação política ainda não interferiu de forma significativa na visão que os empresários têm em relação ao desenvolvimento do País. Apesar de cautelosos, 62% dos entrevistados mantêm uma visão otimista para a economia brasileira, contra apenas 7% que apostam em uma evolução pessimista. Na mesma linha, 54% já prevêem uma redução da taxa de juros no futuro, 80% falam em aumento do PIB e 21% planejam um aumento de investimentos.
"Temos dois mundos separados", explicou Mangaroni, destacando que o Brasil parece enfrentar uma dissociação entre a política e a economia.