O clima de faz de conta partilhado por governo e oposição quanto à implantação da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI), esfumou-se ante a inarredável convicção de apurar a verdade sobre os indícios alarmantes da utilização dos cartões corporativos em proveito pessoal, bastando o péssimo exemplo do reitor da Universidade de Brasília, que mandou mobiliar nababescamente o apartamento funcional que lhe serve de residência, sendo a despesa coberta com o cartão duma fundação pertencente à estrutura administrativa da instituição.
Do primoroso exercício da calculada esquizofrenia com que certos temas são tratados, de modo especial no Congresso, o que levou o senador Garibaldi Alves (PMDB-RN), presidente do Senado, a reivindicar de forma altaneira e republicana o estrito cumprimento das regras do jogo, num passe de mágica, o dramalhão descambou para o terreno da comédia mórbida.
Decidida a implantação da CPMI, formada por deputados e senadores, expoentes da base governista atearam fogo às cobertas ao alardear que a maior bancada (a sua, obviamente) teria direito a arrebatar a presidência e a relatoria da comissão, atropelando o acordo até agora praticado no Congresso, segundo o qual os cargos são divididos entre governo e oposição.
Mais uma vez foi ouvida a opinião ponderada e escorreita do senador Garibaldi Alves, uma grata surpresa pela segurança tranqüila com que exerce a presidência do Congresso Nacional, sobretudo pela afirmação serena de que um dos cargos – presidente ou relator – deverá ser confiado à oposição.
O bloco liderado pelo líder do governo na Casa, senador Romero Jucá (PMDB-RR), cuja autoridade moral para continuar liderando o bloco palaciano está sendo criticada abertamente na própria base, arrefeceu o impulso conferido ao rolo compressor, até porque se vislumbrou a tempo a extrema repugnância causada pelo mostrengo prestes a ser parido.
A quizília agora é decidir com quem fica a presidência da CPMI (o governo não abre mão do comando principal), e a quem será entregue a relatoria. Ocorre que na Câmara, os governistas continuam a fazer corpo mole e se negam a assinar o requerimento do deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP). No caso específico do PT, a situação chega a ser hilariante, pois nenhum dos integrantes da legenda aceita sequer para início de conversa, a hipótese de encarar a função de relator. Enfim, o ano é eleitoral e ninguém quer oferecer o pescoço à degola. Quem te viu e quem te vê…
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