Acordar antes do sol nascer. Preparar a rede, o barco, as iscas e o anzol. Pular as ondas do mar, ou subir o rio atrás de peixe. Essas tarefas, que antes eram atividades exclusivas para homens, vêm ganhando espaço entre as mulheres. Hoje elas representam 10% dos pescadores paranaenses cadastrados na Secretaria Especial de Aqüicultura e Pesca (SEAP). Mas, além de sofrerem com o preconceito masculino em alguns lugares, elas estão tendo que enfrentar todos os problemas de saúde que os pescadores têm. E mais algumas dificuldades.
Segundo a Zootecnista Viviane Rosseto Kiffuri, da Secretaria da Agricultura (SEAB), ainda faltam condições para elas poderem exercer suas profissões sem se preocupar com outras coisas. "A maioria é dona de casa, tem filhos e trabalha na pesca para ajudar o orçamento da família. Um dos problemas mais comuns para essas pescadoras é onde deixar as crianças. Como sempre saem à noite e voltam de manhã, geralmente são obrigadas a deixar os filhos sozinhos, ou sob a guarda de alguma outra pessoa", explica Viviane.
A saúde também é um fator que vem tirando muitas mulheres do trabalho. "As pescadoras que vão para o mar ou para o rio nos barcos, ficam em contato direto com a umidade. Algumas reclamam que geralmente têm problemas de infecção urinária", afirma Evelyn Albizu, engenheira civil e técnica da Fundacentro.
A Fundacentro realizou pesquisas com pescadores do litoral do Paraná no final deste ano, e pretende continuar as pesquisas no ano que vem. "Nós verificamos que quase todos os pescadores do mar, que utilizam barcos a motor, sofrem algum problema de audição. Além disso, também descobrimos que, muitos deles têm catarata. Isso não atinge só o público masculino. As mulheres que trabalham no mar ou no rio, também estão sujeitas a esses problemas", advertiu Evelyn.
Muitas delas reclamam de dores nas costas e nas pernas. Resultado de atividades feitas sem nenhum cuidado com a postura. "Esse problema se deve à falta de informação. Não sabem como levantar peso, ou mesmo como puxar uma rede, sem prejudicar as costas", afirmou Evelyn.
Foi pensando nesses problemas e no número de pescadoras que aumenta a cada ano, que a SEAP organizou o 1º encontro Nacional de Trabalhadoras da Pesca e Aqüicultura, realizado na cidade de Luziânia, Goiás, no mês de dezembro.
O objetivo, segundo Viviane Rosseto Kiffuri, uma das delegadas que representou as aqüicultoras e pescadoras do Paraná foi de dar voz para as pescadoras. "Elas buscavam uma oportunidade para mostrar seus problemas e necessidades. Também queriam propor projetos sobre as atividades pesqueiras e aqüicultoras sob o ponto de vista feminino. Elas tiveram esse espaço no Encontro Nacional", explicou Viviane.
Outras reivindicações mostram que elas querem conquistar o mesmo espaço que os homens têm no mercado pesqueiro e aqüicultor. "As mulheres aqüicultoras e pescadoras reivindicaram projetos na área da saúde, meio ambiente, crédito, legislação trabalhista, previdência e pesca artesanal. Isso mostra que elas não querem continuar a ser trabalhadoras invisíveis, querem ter os mesmos direitos que os homens", concluiu Viviane.