Estamos terminando o ano de 2004 ricos em esperanças. Alguns indicadores revelam crescimento econômico e resultados positivos em vários setores. Nem todos, mas pior se negativos fossem os índices em geral. O índice mais positivo é o de aumento da confiança do brasileiro no presidente Lula. É ingênuo quem imagina que o apoio que a opinião pública empresta de forma crescente ao presidente não tem valia, se outros dados demonstram um governo tíbio, que erra mais que acerta e um País que ainda acumula imensos problemas de difícil solução.
Este é um país presidencialista e com concentração de poderes no governo federal e particularmente no chefe do Executivo. Os brasileiros acostumaram-se à centralização e vêem no presidente o herói de todas as vitórias e o responsável por todas as derrotas. Isso, mesmo quando em outros níveis governamentais e outras esferas os sucessos e insucessos ocorrem.
Para a maioria dos brasileiros, são indistingüíveis as obrigações da União, dos estados e municípios. Também não são bem compreendidos os misteres dos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário federais e estaduais. Ou dos poderes executivos e legislativos municipais, pois nas comunas não há poderes judiciários próprios.
Aplaude-se o presidente pelo que faz e pelo que não faz, desde que o que esteja acontecendo seja bom. E picha-se o chefe da nação pelos males em geral, mesmo que as soluções estejam fora de sua alçada ou que esteja manietado, impedido de solucioná-los porque não agem adequadamente os poderes competentes, que podem ser o Judiciário ou o Legislativo, estaduais ou federais.
Estamos fechando o ano com um Produto Interno Bruto crescente, da ordem de 5%. Com aumento da oferta de empregos, da produção industrial e, porque é véspera de Natal, com maiores vendas no comércio. Tudo isso escusa o ainda enorme desemprego e faz com que nos esqueçamos que o crescimento industrial, que ainda ocorre, é decrescente. Também decrescentes os superávites na balança comercial, que neste ano bateu recordes. Esgota-se a capacidade de produção das empresas e o dólar mais baixo incentiva as importações e desestimula as exportações. Para piorar as coisas, os Estados Unidos aumentam as suas taxas de juros, transformando-se num perigoso ímã para captação de investimentos que cobiçamos e precisamos. E no Brasil aumenta mês a mês a taxa básica de juros, invertendo o caminho decrescente que o governo Lula havia conseguido trilhar.
Isso é feito para evitar a inflação, remédio que muitos empresários, economistas e técnicos consideram inócuo, senão de efeitos colaterais indesejáveis.
As PPPs, se lograrem a aprovação no Congresso, são uma parceria público-privada de duvidosa viabilidade. Seriam associações entre o governo e grupos privados para obras de infra-estrutura, caríssimas e de longa maturação. Será que os nossos empresários, se tiverem dinheiro, vão entrar nessa associação, que lhes poderá parecer perigosa aventura?
Como será 2005? Não dá para adivinhar nem com bola de cristal, apesar do otimismo do presidente Lula. O fato é que o empresariado nacional está retraído, temeroso de tomar dinheiro às taxas a que estão sendo praticadas. E com dúvidas sobre se o mercado responderá a seus eventuais investimentos, se os juros elevados encarecerem os bens e serviços que precisam adquirir. Se ninguém compra, para que produzir mais?
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