Como o rastilho de pólvora aproxima-se dos explosivos e o desastre pode ter conseqüências ruinosas, estão em campo alguns bombeiros de nomeada, como o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Nelson Jobim, disposto a conversar com líderes de partidos políticos para evitar que a situação fique insanável.
Jobim adverte que a tentativa de derrubada do presidente Lula pode levar o País a um caos político coroado pela ingovernabilidade, cuja duração mínima será de dez anos. Na condição de presidente da mais alta corte da Justiça no País, o ministro é categórico ao afirmar que o povo tem direito de julgar o presidente, mas seu hipotético afastamento trará resultados drásticos porque o sucessor eleito terá enorme dificuldade para implantar seu projeto.
No governo passado, a imprensa se referia a Nelson Jobim como líder de FHC no Supremo, e a posição assumida agora não destoa da boa experiência no parlamento, mas sobretudo da reconhecida formação em Direito Constitucional, seara de sua não pequena atuação profissional.
Procura o presidente do STF despertar a atenção das figuras responsáveis do quadro partidário atual para o desgastante processo que aflige a nação, a cada dia reforçado pela ampliação das provas que desnudam multiforme ação criminosa. A tarefa é preservar o presidente Lula, pensando em primeiro lugar na salvaguarda das instituições da República.
Muitos personagens do dramalhão vivido hoje aproveitam a oportunidade, segundo Jobim, para arreganhos em busca de poder e até para vendetas pessoais, quando deveriam pautar-se pela sintonia com a perspectiva nacional. O próprio Lula teria de conduzir suas arengas em tons mais amenos e moderados, a fim de evitar a radicalização inútil e alimentadora das divergências.
Jobim coloca uma pitada extra de pimenta no molho. A seu juízo, nem a Câmara ou o Senado, casas dotadas da atribuição constitucional de acusar e julgar o presidente, possuem condições políticas de processar Lula por crime de responsabilidade, sem antes empreender profunda depuração.
As ponderações do presidente do STF foram feitas em conversas particulares, embora a imprensa tenha sido informada por interlocutores. O mínimo que a seriedade do contexto exige dos dirigentes nacionais é o exercício da coragem. Para isso estão lá.