Persistência da pobreza

Basta a gente sair às ruas, seja nas capitais, seja em cidades do interior e não importa se no ?sul maravilha? ou no nordeste pobre e fica evidente que a miséria está presente em todo o território nacional. Estudos revelam que os gastos sociais têm apresentado efeito contraditório. A desigualdade não caiu na mesma medida em que cresceu a abrangência das políticas públicas, foi a conclusão do seminário ?Pobreza, Desigualdade e Desenvolvimento?, promovido pelo Centro Brasileiro de Análise e Planejamento e o Instituto of Development Studies, da Universidade de Sussex, Inglaterra, com a colaboração do jornal Folha de S. Paulo.

Tais políticas públicas não começaram com o governo Lula. Existiram nos governos anteriores, seja com a política trabalhista da era Vargas, seja com o ?Tudo pelo social? da administração Sarney ou a social democracia com vezos de neoliberalismo dos dois períodos de governo de FHC. Estatísticas demonstram que tem havido progresso. Mas é certo que estamos longe de resolver os problemas sociais e o momento hoje vivido mostra que as tensões vêm aumentando no seio da sociedade, o que revela a impaciência causada por anos e anos de promessas, esperanças e frustrações.

Estamos num ano eleitoral e nele reelegeremos o atual presidente ou o substituiremos pelo candidato do PSDB. Será Lula ou Alckmin. O governador de São Paulo, como político, não constitui novidade. É herdeiro de Mário Covas e homem de primeira hora do PSDB. O PSDB, por sua vez, é agremiação resultante de um movimento dissidente do PMDB, formado por um grupo de políticos que prometiam uma social democracia para valer, e um partido ético. E mais dedicado a programas sociais capazes de debelar o mal da miséria e os conflitos sociais. O novo grupo, do qual a expressão maior foi FHC e Alckmin é o rebento mais recente, já esteve no poder tempo suficiente para demonstrar boa vontade, mas evidente incapacidade de realizar a revolução democrática a que se propôs.

O grande fracasso, entretanto, é o do PT. Do PT de Lula que, por sua própria história, ideologia e quadros prometia uma revolução via democracia com política social oposta àquela praticada pelos grupos anteriores. O primeiro mandato conquistado, não obstante seus muitos programas de cunho social e evidentes progressos obtidos, já deixou evidente que a intenção de mudar para valer fracassou. Esse fracasso deve-se à confessa inexperiência na arte de governar. Além disto, pesaram a ignorância sobre os verdadeiros problemas do País e suas soluções; a falta de planejamento e programas conseqüentes e até mesmo a fragilidade das convicções éticas e ideológicas do grupo que assumiu.

No campo ético, o PT e seus aliados desmoronaram. Foi destruída toda uma tradição de seriedade e honestidade indispensáveis para a conquista da confiança e colaboração da sociedade. No campo do combate à miséria, desenvolveram-se projetos paliativos que não passam de prosseguimento daqueles antes já encetados por outros governos e que se revelaram insuficientes para mudar de fato o triste quadro de pobreza em que vive enorme parcela da população.

Os estudos que acabam de realizar os pesquisadores demonstram que as políticas sociais implementadas têm melhorado a situação em qualidade e abrangência. Porém, os resultados são ?contraditórios?. Zander Navarro, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, participante do seminário, defende propostas de uma rápida redução da pobreza. Para ele, ?se não há crescimento, não vamos a lugar nenhum?. Não se trata de fazer crescer o bolo para só depois dividir e sim fazê-lo crescer e dividir ao mesmo tempo.

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