Perigo nos trilhos

Uma boa notícia para Curitiba e para os curitibanos: o governo do Estado anuncia que, provavelmente após a virada do ano, serão iniciadas as obras de construção do ramal ferroviário que desviará do centro urbano da capital os velhos trens que por ali circulam. Informa-se que o projeto, anteriormente estimado em cerca de R$ 86 milhões, custará cerca de R$ 100 milhões, mas o aumento não importa muito. Será um dinheiro muito bem empregado. Devolverá o sono e a segurança a milhares de pessoas.

Não apenas pela movimentação de trens em área urbana – que isso é coisa também de primeiro mundo -, mas pelas condições em que se encontra a ferrovia, a notícia precisa ser saudada com alegria. Quem tiver o cuidado de verificar as condições do binário que, pela área norte da cidade, leva a Rio Branco do Sul, sabe do que estamos falando: a estrada está em estado precário, há trilhos que já dispensaram a sustentação dos dormentes, que estão podres, a sinalização é precária nas passagens de nível e por aí afora. Em algumas curvas, como por exemplo nas cercanias da Igreja Medianeira, no Ahu de Cima, carregados vagões de cimento balançam na curva como se estivessem ensaiando o descarrilamento fatal que moradores vizinhos aguardam para qualquer dia.

Assim, pouco interessa se a Prefeitura de Curitiba, que até o dia 31 de dezembro detém a titularidade da parceria com o Departamento Nacional de Infra-Estrutura em Transportes Terrestres, do Ministério dos Transportes, tenha gostado ou não do anúncio que está fazendo o secretário Edson Luiz Strapasson, do governo do Estado. O que interessa de fato é o desarmamento dessa verdadeira bomba, prestes a explodir sobre a malha urbana de Curitiba. A crônica falta de manutenção de ramais ferroviários foi a causa de alguns acidentes recentes, felizmente sem a dimensão de tragédia por terem ocorrido em áreas de pouca densidade habitacional.

O chamado Contorno Ferroviário Oeste de Curitiba (bem melhor é dizer simplesmente a retirada dos trilhos), com a extensão de 44 quilômetros, trará sossego a uma população calculada em cerca de 250 mil moradores de pelo menos doze bairros. Há muitos anos isso vem sendo reivindicado, mas a solução do problema vem sendo adiada desde os tempos da falida Rede Ferroviária Federal. Desde 2001, pelo menos, o Orçamento Geral da União prevê recursos para a realização da obra que até agora não saiu por falta apenas de um laudo do IAP – Instituto Ambiental do Paraná. Agora, segundo Strapasson, o DNIT estaria disposto a transferir ao governo do Estado a parceria que mantém com a Prefeitura. Tal parceria é, na verdade, um convênio através do qual a Prefeitura de Curitiba se responsabiliza pela limpeza do traçado enquanto a companhia ferroviária se encarrega da sinalização.

Pelo projeto, o novo ramal ferroviário vai interligar os municípios de Rio Branco do Sul, Almirante Tamandaré, Campo Largo, Campo Magro e Araucária. Devido à sua natureza, é obra que compete naturalmente ao governo do Estado e este, ao assumi-la, terá também mais facilidade de lidar com as exigências ambientais do IAP, até aqui num jogo-de-braço pouco claro com a Prefeitura de Curitiba. “Acreditamos que não haja risco na construção da linha”, declarou recentemente o secretário Strapasson. Assim se espera.

Com todo respeito aos ecologistas de plantão, é certo que os problemas de segurança que o velho traçado ferroviário apresenta hoje em Curitiba são bem maiores que aqueles que o novo traçado eventualmente virá a causar ao meio ambiente. Sabendo bem usar, são poucos os problemas ambientais que não possam ser superados. A ferrovia que hoje corta a cidade ao norte, além de todos os demais problemas urbanos que acarreta, está abandonada e sem manutenção. No caso de um acidente como tantos outros de recente lembrança ao longo de nossas velhas ferrovias, quem será responsabilizado?

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