Se a intenção dos petistas que ainda permanecem no partido e fiéis ao governo é esconder a prática do mensalão, com a versão de que o dinheiro grosso que rolou foi para pagar despesas do partido e de campanha dos companheiros e aliados, estão tendo relativo sucesso. A existência do mensalão, polpudo jabaculê para quem votasse nas propostas do governo, por enquanto só está na versão e nos indícios. Indícios veementes, mas não concludentes. Prováveis, mas não ainda provados.
A verdade forçosamente virá à tona, tantas são as investigações que se fazem no Congresso, no Ministério Público, no próprio governo, na oposição e até no Supremo Tribunal Federal. Surge, entretanto, uma versão nova sobre o vaivém dos milhões de reais. Ela merece toda atenção. Sua origem é o PSDB e, nesse partido oposicionista, onde não se torce nem se deseja o impeachment de Lula, mas sua derrota na disputa de um segundo mandato, constitui a versão mensalão II, como em certos filmes de sucesso, não importa a má qualidade.
Entendem os dirigentes do PSDB que o dinheiro foi de fato levantado pelo ?empresário? mineiro Marcos Valério Fernandes de Souza nos bancos BMG e Rural. Muito dinheiro para entregar ao PT, mas o partido nada deve, ou seja, não precisa nem vai pagar. Aliás, é o que tem sido dito pela cúpula do partido de Lula, se bem que com diferentes justificativas. A nova versão é que a conta já está paga, e com o nosso dinheiro, o dinheiro da nação, pois os empréstimos foram levantados com a garantia de contratos de publicidade do governo e de estatais com as empresas de publicidade de Marcos Valério. Contratos com o governo. E importâncias polpudas foram para os bolsos do publicitário intermediário que, assim, deveria dar-se por satisfeito e responsabilizar-se pessoalmente e através de suas empresas pelas dívidas nos bancos. Ele, e não o PT, pois pela via utilizada o governo já pagou tudo e com enormes lucros, com o dinheiro do povo. No meio dessa engenhosa manobra existe ainda o ?complicômetro? da prática de chantagem contra pelo menos um banco que, mesmo sendo credor, mas estando sub judice, ficou sem cacife para exigir o dinheiro de volta. E outro teria sido fartamente satisfeito com um bom tempo de exclusividade na abertura de crédito para aposentados e pensionistas do INSS, ganhando com isto muito dinheiro, uns dois bilhões de reais.
Assim, livra-se o PT da pecha de caloteiro do dinheiro que entrou no seu caixa dois e continua escondida a prática do mensalão, este sim o crime mais hediondo sofrido pela democracia. A nação está preocupada com essas manobras financeiras entre PT, Delúbio, Marcos Valério e os bancos. Aí tem sujeira e evidentes ilegalidades. Mas está mais preocupada é com o mensalão, pois se no Brasil se legisla na base da compra de votos de parlamentares, a desmoralização atinge em cheio tanto o Executivo quanto o Legislativo. E esfacela a nossa ainda incipiente, mas reconhecida e reconhecível democracia, tornando ilegítima uma porção de mandatos.