A estabilidade da economia, a queda da taxa de juros e a mudança do perfil da dívida pública podem levar em cinco anos ou mais a uma mudança do perfil de atuação do Banco Nacional de Desenvolvimento (BNDES). A informação consta no estudo "A trajetória dos bancos de desenvolvimento e a experiência recente do BNDES", obtido pela Agência Estado e integrante do boletim Visão do Desenvolvimento, editado pelo BNDES, de maio. Para o superintendente da assessoria econômica da instituição, Ernani Torres Filho, a alteração, porém, não será drástica.
"Essas mudanças no mercado vão acontecer lentamente, acelerando-se ou desacelerando-se conforme caminhem as condições de liquidez interna e externa da economia brasileira", diz. "Isso será positivo porque vai aumentar a oferta de crédito de curto prazo no País.
Ele ressalta que atualmente a atuação do BNDES é claramente complementar à dos bancos comerciais, com segmentações nítidas entre as atividades de crédito de curto e de longo prazo. No entanto, "é possível que os bancos comerciais, aos poucos, passem a atender com seus recursos próprios a demanda de investimentos de prazo inferior a cinco ou sete anos", afirma. Ele acrescenta que financiamentos para aquisição de ônibus, caminhões e maquinário agrícola, além de obras civis de pequeno porte, poderiam passar a ser atendidos por essas instituições.
"A queda da taxa de juros e a redução do perfil da dívida pública, que hoje é muito liquida, vai abrir naturalmente a possibilidade do mercado privado de atuar no financiamento que hoje é liderado pelo BNDES." Torres Filho salienta, porém, que essa é uma tendência mundial. "O mercado vai mudar, como mudou no mundo. O volume de ativos vai crescer e o desembolso cair. Nós vamos ficar ainda mais parecidos com os bancos de desenvolvimento de longo prazo. E isso vai ser feito em consonância com o mercado.