O governo Lula conseguiu atravessar mais uma semana caracterizada não só pelo cerco oposicionista, de quem se esperava artilharia compacta e desgastante na exposição do ministro Antônio Palocci na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado (CAE), mas pela logística invocada para amenizar o estrago interno feito pela ministra-chefe da Casa Civil.
A antecipação da ida do ministro da Fazenda ao Senado, logo percebida pela oposição como estratégia para reduzir as chances de enredar Palocci com perguntas sobre as denúncias de envolvimento em corrupção, apesar do apelo do senador Aloizio Mercadante (PT-SP), não convenceu os oposicionistas a apertar o ministro.
A idéia continua sendo convocar Palocci para falar perante a CPI dos Bingos, cujo requerimento deverá ser apresentado nos próximos dias. O próprio ministro afirmou que não se furtará a comparecer a qualquer instância para provar sua honestidade de administrador público.
Para a oposição, o pronunciamento de Antônio Palocci sobre política econômica – houve na oposição quem o defendesse no contraditório com a ministra Dilma Rousseff – foi convincente pela minúcia ensaiada das boas referências feitas aos governos Sarney, Itamar e FHC, como lançadores das bases dos resultados atuais.
Ora, não seria diferente a reação dos senadores do PSDB e PFL constrangidos a aplaudir um ministro que nada mudou em termos da política econômica herdada pelo PT e referendada na famosa Carta aos Brasileiros. Seria inconcebível esse trato civilizado caso a inflação estivesse em disparada, a política salarial desgovernada e o mercado externo em baixa, para citar meros exemplos do ufanismo oficial.
A expectativa da exoneração do ministro e a especulação sobre o substituto, talvez um homem de perfil ideológico não apreciado pela lógica do mercado, baixaram o nível da tensão no meio da semana, após a fala bem-sucedida de Palocci.
O temor do mercado foi claramente exposto na apreensão quanto ao corte drástico da taxa de juros básicos, o aumento dos gastos sociais e a implantação de projetos de natureza populista tidos como esbanjadores de recursos públicos.
A política de arrocho fiscal não é prática autônoma do governo brasileiro, assim como a maior taxa de juros do planeta, suprema alegria dos credores da monstruosa dívida pública. O governo respirou aliviado, mas a nação ainda não está satisfeita.