Cada dia contabilizando uma perda a mais de terreno em sua campanha à Presidência da República, que a bem da verdade vai ficando inviável pela resistência invejável do candidato à reeleição, o tucano Geraldo Alckmin parece dar sinais de um certo desespero ao apelar para ataques pessoais a Luiz Inácio Lula da Silva.
Dia desses o bem apessoado e fino ex-governador de São Paulo havia declarado que Lula ?rouba o dinheiro do povo?, na medida em que fez (ou faz) vistas grossas aos que agiram na contramão dos ideais que sempre defendeu como grande timoneiro do Partido dos Trabalhadores. Geraldo tenta pespegar em Lula a mancha que outros tentaram antes, sem êxito, numa prova que a massa já não se deixa impressionar, até mesmo pela recorrência desse tipo de acusação. Afinal, são todos iguais, raciocina o povão.
A última declaração de Alckmin sobre Lula, e enveredando por esse caminho o saldo poderia ser mais benéfico para o opositor tucano, aumentando o cacife de sua campanha, enquadrou o presidente como ?exterminador de empregos?. A sacada surgiu na visita a uma cidade-satélite de Brasília, na qual grande número de moradores vivia da confecção de bichinhos de pelúcia, mas a atividade foi quase eliminada pela invencível concorrência de produtos similares ?made in China?.
Ao invés de ficar repetindo declarações insultuosas à pessoa do presidente, tática que os eleitores não mais levam em consideração, Geraldo deveria encomendar dos operadores da campanha um estudo circunstanciado das brechas existentes na administração federal, que são abundantes, e, aí sim, a cada momento estratégico denunciar algum ponto relegado ao desprezo no projeto do lulo-governo.
A questão dos empregos é altamente significativa, porque dos dez milhões prometidos por Lula na campanha anterior, chegou-se à metade e, pior, não há a menor evidência de que a economia brasileira tenha condições de reagir de forma tão espetacular nos próximos meses (ou anos), a ponto de ingressar num regime de pleno emprego e absorver a massa marginalizada pelo mercado de trabalho.
O que o governo deveria fazer, mas não faz, é eliminar as barreiras que cercearam o investimento produtivo no País (no segundo trimestre o crescimento foi negativo), única maneira de aumentar a oferta de empregos. A indústria parou de crescer, a construção civil ficou nas promessas (sempre elas), o agronegócio foi engessado pelo câmbio desfavorável, a infra-estrutura abandonada e tantos outros setores vitais da economia também sofreram os efeitos da retração.
Alckmin teria mais sucesso discutindo didaticamente essas e outras questões pontuais do não pequeno passivo administrativo de Luiz Inácio, mesmo que volta e meia tivesse de enfrentar – responder é mais difícil – a amarga constatação que toda essa pasmaceira tem raízes profundas nos oito infindáveis anos do príncipe da sociologia. A essa altura, seria querer demais?