Perda de controle

Em reunião fechada, realizada em Fortaleza, entre o presidente da República, governadores de Estado e outras autoridades, Lula manifestou preocupações com a perda do controle de lideranças sociais sobre seus movimentos. Movimentos como os dos sem-terra ou o dos sem-teto estariam fugindo ao comando de seus chefes, multiplicando-se e dando oportunidade ao surgimento de outras lideranças. E, como nos partidos políticos, segundo análise do próprio Lula, cada um desses novos movimentos apresenta-se como os novos partidos que se dissociam dos grandes ou nascem para com eles competir, sempre explorando os mesmos problemas, as mesmas necessidades, as mesmas massas de manobra, porém com visões e soluções diferentes.

Lula falou em retomar o diálogo com as lideranças dos grandes movimentos sociais, para acompanhar de perto suas ações e injetar-lhes legitimidade, na medida em que reitera seu interesse, como presidente, em tê-las como interlocutoras do governo.

Enquanto isso, multiplicam-se as ações dos sem-terra, dos sem-teto e agora dos sem-emprego. Essas ações se traduzem por invasões tanto de terras públicas, quanto particulares, produtivas e improdutivas e, não raro, de forma violenta. Surgiram e se multiplicaram, também, as invasões urbanas dos sem-teto. Os sem-terra fazem também as invasões de protesto, tomando repartições públicas. Suas lideranças, agora multiplicadas e comandando diversos movimentos, não escondem a intenção de, se necessário, sustentar medidas ilegais e partir até para a violência, desobedecendo inclusive ordens judiciais.

Já existem perigosas reações de donos das propriedades ameaçadas ou já invadidas, criando-se uma situação de iminentes confrontos e riscos de violência altamente perigosa.

A intenção, expressa por Lula, de estimular o controle dos movimentos sociais, por suas lideranças e pelo governo, parece ser um passo necessário e urgente. Mas está longe de ser uma solução. Não é o controle das lideranças e a confirmação daquelas já tradicionais nos movimentos sociais que mais interessa. O essencial é que o governo tenha o controle, sim, é dos próprios problemas sociais, com capacidade para resolvê-los. Se não existirem problemas sociais agudos, dispensáveis as lideranças e o seu controle. E afastados estarão os riscos de conflitos.

Isso, entretanto, não está acontecendo. Pelo contrário, o governo vem demonstrando que não tem soluções para os problemas sociais, nem instrumentos e recursos para enfrentá-los. A reforma agrária que os movimentos dos sem-terra pedem para já, o governo parece só poderá realizá-la em décadas e, ainda assim, se conseguir reservar recursos para tanto. No que respeita à criação de habitações para os sem-teto ou mesmo uma reforma urbana, o que seria algo muito mais complexo, trata-se de problema que se eterniza por décadas. E mais décadas serão necessárias para que alguma coisa seja feita. E aí, também, faltam projetos e recursos. Chega-se à triste conclusão de que, depois de o governo ter dito, e com razão, que os problemas sociais não são problemas de polícia, na medida em que os embates se tornam iminentes e existam riscos reais de enfrentamentos, não haverá outra solução que impor a lei e chamar as autoridades de segurança. Seria admitir a perda do controle dos problemas sociais e o fracasso do governo na consecução do seu principal objetivo: tornar o Brasil um país mais justo.

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