Perda de cérebros

Uma novela de televisão despertou a atenção dos brasileiros para um problema gravíssimo que acontece na clandestinidade e nem sempre chega ao conhecimento público. E, quando chega, é porque transformou-se em tragédia, humilhações e mesmo imerecidos castigos para muitos de nossos concidadãos. Nos referimos à emigração ilegal de brasileiros da classe média baixa, da classe média e intelectuais para países mais desenvolvidos, como os Estados Unidos, Grã-Bretanha, França, Espanha, Canadá e Austrália, além de outros, se bem que em menor proporção.

Embora essa fuga aconteça desde sempre, a verdade é que hoje há uma enxurrada de emigrantes ilegais buscando entrar nos referidos países sem o visto ou como falsos turistas, para depois lá viverem e trabalharem na clandestinidade. O que chama a atenção da opinião pública brasileira é o lado dramático dessas histórias. Confrange-nos os casos em que brasileiros morrem na travessia do México para os Estados Unidos, enfrentando desertos e o Rio Grande, sob a mira da polícia especializada norte-americana, e explorados pelos chamados coiotes, marginais que se dedicam a ganhar dinheiro lançando cidadãos em busca de uma vida melhor em perigos sem conta e a um custo elevado e doloroso.

O México havia suspendido a obrigação de visto para visitas de brasileiros ao seu país, mas por imposição dos Estados Unidos voltou a exigi-lo, pois é através da fronteira dos dois países da América do Norte que os nossos conterrâneos chegam ou tentam chegar à terra de Tio Sam.

O que os espera lá é geralmente empregos clandestinos de pedreiros, faxineiros, ajudantes de cozinha e trabalhos domésticos. Viram cidadãos de segunda classe. E, porque clandestinos, são explorados, não tendo proteções legais e sociais do governo norte-americano. Vivem uma vida de sacrifícios, quando escapam da prisão e da expulsão.

Este lado a novela revela e a opinião pública brasileira, por notícias esparsas aqui divulgadas, conhece. O que não se sabe e não se atenta é para o fato de que estamos perdendo mão-de-obra simples e também cérebros.

A proporção de brasileiros com diploma universitário que procura viver no exterior é cinco vezes maior do que a média de imigração clandestina do nosso País, segundo estudo do Banco Mundial. Estima-se que 0,43% da população brasileira vive em outros países e a maioria é de portadores de diplomas universitários. Esse número vem crescendo, apesar de os países receptores terem redobrado suas providências para impedir o ingresso de clandestinos. Emigram brasileiros porque somos um país menos desenvolvido e que não oferece aos seus cidadãos oportunidades de uma vida condigna, mesmo quando são portadores de diplomas de cursos superiores. Essa situação está piorando. Cada dia nossos cidadãos têm menos esperanças de uma vida com perspectivas de melhora dentro do Brasil e um grande número sequer consegue aqui empregos, trabalho para a sobrevivência e sustento da família. Na ditadura militar inventaram o ?slogan? maldoso de ?Brasil, ame-o ou deixe-o?, mas o que estamos descobrindo é que a maioria dos brasileiros ama o seu país e mesmo assim arrisca a própria liberdade e a vida para deixá-lo, pois é melhor ser faxineiro lá fora que doutor desempregado aqui na terra natal. É sinal evidente de que, no Brasil, as coisas vão de mal a pior.

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