O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, embora a versão oficiosa do dispositivo de comunicação social do Planalto tenha se esmerado em passar uma imagem de tranqüilidade e conformação com o jogo político, ficou deveras agastado com o passa-moleque da rejeição, pelo Senado, da MP que criava a Secretaria Especial de Planejamento Estratégico (Sealopra), confiada ao filósofo da política e catedrático da Universidade de Harvard, Roberto Mangabeira Unger.
A reação do presidente Lula, ainda não concretizada, foi a imediata determinação de procurar outro instrumento jurídico para a criação do setor de planejamento a longo prazo. A sugestão recomendada foi a edição de um decreto presidencial para acrescentar à estrutura administrativa do primeiro escalão um ministério extraordinário e, dessa forma, evitar que Mangabeira volte à cátedra antes do prazo de dedicação funcional ao governo Lula, que há poucos meses inquinava de ?o mais corrupto da história?.
O embaraçoso desgaste pessoal, não só do presidente da República, mas do titular da secretaria rejeitada pelos votos da oposição e dos peemedebistas revoltados com o desprezo com que o lulo-petismo passou a tratar o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), deve ter causado inegável repercussão nos meios acadêmicos, sobretudo entre os colegas de Mangabeira, decerto não acostumados e essa espécie de procedimento mesquinho.
Na interpretação do presidente Lula, o governo necessita com urgência de um dispositivo capaz de pensar com maior profundidade a realidade brasileira, pelo menos, até o ano de 2022. Tanto que da estrutura do novo ministério continuarão a fazer parte o Núcleo de Assuntos Estratégicos (NAE) e o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). A idéia é excelente e merece aplauso, porquanto visa estabelecer parâmetros para o planejamento estratégico para o resto de seu mandato e mais três períodos administrativos federais, além de legar ao presidente eleito em 2022 uma linha de orientação preestabelecida.
A justificativa da proposta de Lula ressuma de rápido balanço de nossa infra-estrutura, onde se avolumam débitos históricos em portos, aeroportos, rodovias, ferrovias, hidrelétricas, saneamento básico e habitação, apenas para citar a desídia mais evidente da gestão pública. Pensar o futuro é preciso.