Hoje é domingo, dia santificado e, presumivelmente, de descanso. Gostaríamos de, nesta data, evitar o assunto do desastre com o avião da TAM e não falar em apagão aéreo, mas isso ainda não é possível. Cansadas estão também as pessoas envolvidas com o problema, sejam os parentes e amigos das vítimas, sejam os passageiros cansados de longas esperas nos aeroportos, muitas vezes sem resultados, e agora o problema da troca de aeroportos para desafogar Congonhas. Este último castigo visa, a médio e longo prazos, diminuir o problema e mostrar alguma luz no fim do túnel escurecido pelo apagão.
As vítimas dessa situação insana a que chegou o transporte aéreo no Brasil não são só os mortos nas duas tragédias, a da Gol e a da TAM, seus parentes e amigos.
Devemos, por uma questão de justiça, inserir nesse rol também os aeroviários. Os pilotos já declararam seus temores e a situação estressante em que se encontram. Os nervos à flor da pele, mesmo quando ainda não havia caído o Airbus, pois todos os dias tinham de se submeter a pousos e decolagens em aeroportos com pouquíssima segurança.
Depois de dez meses de crise, os funcionários dos aeroportos estão dando sinais de que os efeitos do caos aéreo estão atingindo com severidade sua qualidade de vida. Muito embora seja verdade que muitos desses funcionários mostraram-se despreparados para tratar com o público em situações críticas como as que vêm ocorrendo, muitos deles são pressionados pelos passageiros de um lado, por suas chefias de outro e, mesmo com boa vontade, ficam sem saída. Quase sempre estão sem respostas para as multidões de candidatos a voar ou pessoas que aguardam vôos, pois não lhes são passadas informações seguras. O avião vai sair, mas pode não sair. Vai demorar uma, duas ou três horas, talvez mais, talvez menos. O vôo vai ou não ser cancelado?
São questões que o pessoal das companhias não respondem simplesmente porque não sabem. Dependem de quem comanda o sistema e aí entram de São Pedro mandando ou não chuvas e neblina, controladores de vôo que têm regras estritas para obedecer. E técnicos ou burocratas travestidos de técnicos. E ainda problemas que podem estar acontecendo em outros aeroportos, onde o fechamento de pistas, o excesso de tráfego e outros problemas acabam, como numa sucessão de dominós, derrubando a movimentação de toda a malha aérea. Na linha de frente, mas sem a indispensável retaguarda, muitos desses servidores que trabalham em aeroportos acabam virando caixa de pancadas.
O Sindicato Nacional dos Aeroviários foi ao Ministério Público do Trabalho para que se investigue a situação de quem trabalha em balcões de atendimento, check-in e manutenção. Segundo Selma Balbino, presidente do sindicato, já foram registradas 43 denúncias, entre telefonemas e cartas à entidade. Reclamam principalmente funcionários da TAM e da Gol. E estas reclamações foram feitas antes do acidente da TAM, que ocorreu no dia 17 de julho. Depois dessa catástrofe, a situação piorou. Em uma das cartas, um funcionário relata que pediu socorro a um segurança do aeroporto porque um passageiro ameaçava agredir alguém. A resposta foi: Ah, chama a Polícia Civil. ?Isso foi pior do que ser agredida?, disse a missivista.
Outro funcionário conta que saiu do trabalho ?com vontade de chorar? por ter sido ameaçado e ter de enfrentar o passageiro justamente enraivecido e que havia pulado o balcão, em tom ameaçador. Um servidor de manutenção se queixa do acúmulo de tarefas e da falta de peças. ?Já trabalhei na Vasp e na Transbrasil e nenhuma delas despreza tanto a manutenção quanto a TAM?, declarou.
A sobrecarga de trabalho e a justa indignação dos passageiros estão causando uma guerra entre o pessoal das companhias que está na linha de frente, nos balcões dos aeroportos e os frustrados candidatos a viajar de avião. Todos estão ?pelas tabelas?, à espera de que as autoridades competentes sejam efetivamente competentes e, enquanto buscam culpados e causas para os acidentes, não descuidem de melhorar os serviços aeroportuários. A situação atual é de extremo stress. Uma fábrica de loucos.
