O deputado Pedro Henry (PP-MT) negou hoje (30), em depoimento no Conselho de
Ética da Câmara, ter oferecido o mensalão para atrair deputados ao PP e bateu
forte no autor da denúncia, colocando em dúvida a sanidade mental do deputado
Roberto Jefferson (PTB-RJ). "Jefferson está passando por um processo de
deterioração psicológica muito grave. Está perdendo as faculdades mentais, o
equilíbrio. Está se endeusando", afirmou Henry, que é médico. "Está
ultrapassando os limites e, do ponto de vista médico, ele me preocupa
bastante."
No depoimento, de quatro horas e meia, Henry garantiu que só
ouvir falar na suposta mesada a parlamentares no início do mês, quando o
petebista denunciou o esquema. "Desconheço, nunca ouvi e nunca participei." E
voltou a atacar Jefferson: "Às vezes a gente acaba angariando adversários,
inimigos políticos, que não sabe por quê. Talvez ele tenha me envolvido porque
eu ocupava uma posição de visibilidade."
O ex-líder do PP negou com
veemência ter participado de uma reunião com os deputados Bispo Rodrigues
(PL-RJ) e Valdemar Costa Neto (PL-SP) para pressionar o líder do PTB, José Múcio
(PE), a aderir ao mensalão. "Essa reunião nunca existiu. Essa reunião só existiu
na cabeça dele (Jefferson)."
No relato, Henry garantiu que não conhece o
publicitário Marcos Valério de Souza, acusado de ser o operador do mensalão.
Acrescentou ter conhecido o tesoureiro do PT, Delúbio Soares, durante visita do
deputado Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP) e do tesoureiro do PT a seu Estado.
"Delúbio foi acompanhar Greenhalgh durante a campanha do deputado à presidência
da Câmara", detalhou. Um segundo contato com Delúbio teria ocorrido em reunião
na sede do PT em Brasília, com a presença do presidente da legenda, José
Genoino. "Mas nunca vi o Delúbio no Planalto."
Dizendo-se traído pelo
ex-secretário-geral do PP Benedito Domingos, Henry negou que a casa do atual
líder do PP, José Janene (PR), funcionasse como QG do mensalão.
Segundo
Domingos denunciou ao jornal O Estado de S. Paulo, o apartamento de Janene era
conhecido como "pensão", tamanha a afluência de deputados. Henry admitiu
freqüentar a residência do líder de sua legenda, mas garantiu: "Janene tem a
virtude muito grande de ter uma cozinheira espetacular. As reuniões na casa dele
eram comuns, mas eram reuniões gastronômicas, de lazer. Ganhei 20
quilos."
Troca-Troca – O número de deputados do seu partido, admitiu
Henry, aumentou depois da posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Em
outubro de 2002, o PP elegeu 49 parlamentares. "Chegamos a ter 56 deputados.
Hoje são 55", informou o ex-líder.
Desde o início do governo Lula, 18
deputados deixaram o PP e outros 24 ingressaram na legenda. "Não houve grande
variação. A curva é quase linear", ressaltou. "São alterações partidárias
absolutamente normais. Não há nenhuma relação espúria. Não fui cooptar
ninguém."
Henry ponderou que seu partido perdeu quatro deputados para o
PTB de Roberto Jefferson e outros dois parlamentares trocaram o PTB pelo PP. "Em
relação ao PTB o saldo do PP é negativo."
Gráficos armazenados num
notebook foram exibidos por Henry para sustentar que o PP foi mais independente
que o PTB em relação aos interesses do Palácio do Planalto. "Apesar de
pertencermos à base aliada, o PP mantém uma relação crítica e respeitosa com o
governo. O PTB tem tido mais fidelidade às propostas do governo", declarou o
ex-líder.
Henry admitiu que seu partido fez indicações para cargos
públicos. O deputado contou que o partido tem apadrinhados no Instituto Brasil
Resseguros (IRB), na Secretaria de Insumos Estratégicos do Ministério da Saúde,
na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e numa diretoria
Petrobras.
Depois, fez uma retificação e disse que havia se equivocado ao
citar a Petrobras. O PP não fez indicação na Diretoria de Abastecimento da
Petrobras, assegurou Henry. "Fizemos uma indicação para a Transportadora
Brasileira de Gás (TGB)", corrigiu.