É torturante reconhecer, mas essa é a verdade insofismável: afinal o País começará a funcionar depois do período regimental de recesso do Judiciário e Legislativo, além da semi-paralisação verificada na maioria dos setores do Executivo (em suas três esferas), tendo em vista a inclinação natural que para muitos se transforma na imposição de sair de férias logo depois da virada do calendário gregoriano.
Tal liberalidade não se consubstanciou na mesma proporção nos demais setores da economia, salvo os casos específicos, pois tanto a indústria, comércio e serviços procuraram manter a seqüência normal de suas atividades, mesmo prejudicados pela incrível sucessão de feriados prolongados desde Finados, passando pelo Natal, Ano Novo até chegar ao Carnaval. A próxima parada geral dar-se-á no feriado da Páscoa, a partir do dia 21 de março, quando novamente as turbinas nacionais serão desaceleradas.
Com o retorno ao trabalho dos membros do Judiciário e dos parlamentares, o próprio Executivo sente-se motivado a dinamizar sua atuação, sobretudo no plano federal, porquanto quase todo o espectro de suas atividades depende das deliberações e aprovação do Congresso Nacional.
No final do ano, sob o impacto da humilhante derrota na discussão da CPMF, o governo prometeu enviar ao Congresso logo na instalação do ano legislativo, o projeto de reforma tributária. O assunto foi deixado em fogo brando nas últimas semanas e pouco se falou sobre ele. Até o momento ninguém sabe exatamente quais são as linhas básicas da reforma, embora a oposição tenha antecipado a disposição de não votar qualquer dispositivo que contribua para o aumento da carga tributária sufocante, lançada sobre o lombo do contribuinte.
Apenas para ilustrar esse peso insuportável, basta dizer que em determinado momento do dia de hoje, a partir de 1.º de janeiro último (em apenas 36 dias), a soma de repasses dos contribuintes para a União, estados e municípios, na forma de impostos, tributos, contribuições voluntárias ou compulsórias, ou que outros nomes tenha a derrama, terá completado a estonteante quantia de R$ 100 bilhões!
O presidente Lula falava ainda agora da necessidade da reforma do Judiciário, à qual acrescentamos a reforma do campo político-partidário, espaço transformado em autêntica casa de tolerância por melífluas raposas travestidas de homens públicos.
Há muito trabalho a ser feito esse ano por governantes e legisladores, o que exigirá o acompanhamento percuciente do Poder Judiciário. O avanço será extraordinário, porém, temos uma pedra no meio do caminho: as eleições municipais.