O pedido dos governadores petistas para que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva abra um canal privilegiado de negociação com o grupo irritou colegas de outros partidos. Para eles, haverá partidarização indevida na discussão do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) se a reivindicação ouvida por Lula anteontem, em Salvador, for atendida.
Os cinco governadores do PT que almoçaram com o presidente no sábado – Jaques Wagner (Bahia), Ana Júlia Carepa (Pará), Wellington Dias (Piauí), Binho Marques (Acre) e Marcelo Déda (Sergipe) – querem negociar uma pauta em separado, aproveitando que integram o mesmo partido de Lula.
Ontem, governadores não-petistas advertiram o risco de o PAC ser partidarizado. "Aproveitar um evento partidário para fazer pressão é até natural, mas será um escândalo se o presidente Lula os atender", afirmou a governadora do Rio Grande do Sul, Yeda Crusius (PSDB).
"Tudo no governo do presidente Lula já tem viés que privilegia os aliados. Agora, se ele olhar mais para os Estados governados pelo PT, seu programa terá de mudar de nome, passando a se chamar Programa de Aceleração Eleitoral", advertiu ela.
Yeda destacou que é preciso o governo olhar para todo o Brasil. "O choro é livre. Eu também estou chorando", afirmou, insistindo na necessidade de a União redistribuir os impostos de maneira a atender as demandas dos Estados.
O governador do Paraná, Roberto Requião (PMDB), também comentou o encontro de Lula com os governadores do PT. Por meio de sua assessoria de imprensa, disse não acreditar que o governo do presidente Lula possa ‘partidarizar’ o PAC. Também colocou em dúvida o fato de os governadores do PT terem feito qualquer pedido nesse sentido. "O Governo do Paraná não acredita nisso (que governadores do PT tenham pedido interlocução privilegiada ao Planalto). Considera isso fofoca sem sentido", respondeu a assessoria do governador do Paraná.
Já o governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral Filho (PMDB), não se mostrou preocupado com o pleito dos governadores petistas . Em tom irônico, Cabral afirmou que pedir é um direito. "Não vejo problema. Isso é um direito deles e eu não sou ciumento", afirmou.
Desde que o PAC foi lançado, governadores dos 26 Estados e do Distrito Federal têm reivindicado alterações, além de renegociação das dívidas com a União, partilha da Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF) e mudanças na Cide (imposto sobre os combustíveis).
Os governadores já chegaram, inclusive, a realizar duas reuniões para a elaboração de uma pauta conjunta de demandas junto ao Planalto. As reivindicações coletivas vão ser apresentadas ao presidente Lula em encontro marcado para o dia 6 de março. Ao todo, eles pleiteiam ao menos dez alterações na relação Estados/União, de maneira a desafogar os Estados e facilitar o crescimento regional.
O presidente tem mostrado disposição em ouvir os governadores e negociar mudanças para viabilizar a aprovação do PAC no Congresso. Lula considera o programa ‘a menina dos olhos’ do seu segundo mandato. O governo já tem claro também que para preservar o PAC terá trabalho árduo de articulação política, já que quase 700 emendas foram apresentadas aos projetos e medidas provisórias do pacote.