São Paulo – O debate entre os pré-candidatos a Presidência da República do PDT, ocorrido hoje na Assembléia Legislativa de São Paulo, foi marcado por um conjunto de opiniões díspares sobre a condução da economia, embora o partido procure se apresentar como alternativa aos projetos de governo do PT e do PSDB, sobretudo no campo econômico. O pré-candidato e ex-diretor do BNDES, Bautista Vidal, propôs, por exemplo, uma ruptura total do padrão de relação mantido entre governo e sistema financeiro, questionou a dimensão da dívida pública e, ao mesmo tempo, qualificou a comunidade financeira como "delinqüente".
Para ele, o pagamento dos juros das dívidas interna e externa brasileira compromete os investimentos sociais da União e, por isso, será necessário, na visão dele, caso o PDT chegue ao poder repensar o sistema de geração de superávit primário para o pagamento dos juros da dívida.
As posições de Vidal foram qualificadas de "radicais, mas sem nenhum preconceito" por outro pré-candidato da legenda, o ex-governador de Alagoas Ronaldo Lessa. Para o alagoano, a geração do superávit primário terá de ser repensada, pois "não se pode gerar superávit primário enquanto se mantém a miséria". Além disso, Lessa alegou que o foco monetarista dado à política econômica brasileira tem favorecido o sistema bancário, concentrando as riquezas não só nas grandes corporações privadas mas também nos bancos públicos. Outra proposta dele foi a de que o País pode perfeitamente aceitar "alguma inflação", contanto que gere mais crescimento econômico.
Em linha totalmente oposta, o senador Cristovam Buarque (PDT-DF) outro pré-candidato, refutou todas as possibilidades de volta de qualquer inflação. "Inflação é também um sistema de corrupção Se o trabalhador ganha R$ 100 e roubam dele R$ 20, dá na mesma se os preços dos produtos sobem R$ 20 e ele ganha os mesmos R$ 100", opinou. "A inflação só gera perda do poder de compra, e sobretudo dos mais pobres", acrescentou o senador.
Buarque observou também que antes de o PDT chegar ao governo, não seria possível estimar em quanto o superávit primário poderia ser cortado, numa nova orientação da política econômica. "Eu inverteria a pergunta: se não tivermos força para reduzirmos o superávit ou darmos calote nos juros, tendo de cumprir a regra neoliberal, haverá dinheiro para cumprirmos nossas promessas de expansão e investimento social? Se não tiver, é melhor instaurarmos a guerrilha e esquecermos a eleição. Eu acho que sobra sim recursos para investirmos no social e honrarmos a dívida", argumentou.
Segundo Buarque, o sistema financeiro é "seqüestrador" dos recursos do País, mas, dificilmente, seria possível romper a lógica econômica no curto prazo. "A Justiça faz parte do esquema para manter o poder dos seqüestradores da nação", acrescentou, para argumentar que medidas heterodoxas poderiam ser cassadas no poder Judiciário.
Em outra sugestão, Buarque disse entender como necessária a desvinculação dos mandatos eleitoral do poder Executivo e do da autoridade monetária, de forma a não provocar turbulências na economia em períodos de troca de governo. Para ele, por um período mínimo de 100 dias, após a troca de presidente da República, o presidente do Banco Central deveria se manter no cargo.
As propostas de Cristovam Buarque claramente chocaram alguns integrantes do PDT, dos partidos políticos um dos maiores opositores do governo Lula. "Desse jeito, a candidatura de Cristovam Buarque perde força dentro do PDT", resumiu uma liderança da legenda. Ao ver que sua proposta surpreendera a todos no debate, o senador afirmou que estava ali não apenas para dizer o que o partido queria ouvir, mas principalmente para apresentar suas idéias e contribuir para a formação de uma unidade partidária em torno da política econômica.
Ainda na esfera econômica, o presidente nacional da legenda, deputado estadual Carlos Lupi (RJ), criticou a decisão do governo Lula em quitar os débitos com o Fundo Monetário Internacional. "Por que escolher quitar a divida do FMI, que era a de juros menores, subsidiados, enquanto os juros mais elevados estão sobre a dívida interna?", indagou Lupi. Diante de tantas posições diferentes sobre a forma de conduzir a economia, o ex-governador Ronaldo Lessa sugeriu que o partido forme uma comissão para debater internamente um plano econômico, a ser defendido pelos candidatos do partido a todos os cargos eletivos neste ano.
