Pedágio da Lapa

Fim anunciado para a fuga de pelo menos duas praças de pedágio nas cercanias de Ponta Grossa: a tortuosa, esburacada e perigosa BR-476, dentro de pouco tempo, também será pedagiada. O anúncio é do governo do Paraná, que pediu – e obteve – do governo federal a “administração” da estrada para repassá-la, com a permissão de cobrança pela licença de deixar ir e vir, à iniciativa privada. Confirma-se, assim, a tese segundo a qual administrar, cá entre nós, virou sinônimo de pedagiar.

Criticamos aqui, por diversas vezes, o estado calamitoso em que se encontra a estrada, que, entre outras cidades, conduz à legendária Lapa, a menos de cinqüenta quilômetros de Curitiba. Da última vez, chamamos a estrada de picada, diante da ameaça real que ela oferece à integridade física de qualquer veículo (e viandante) que por ali se atreva a transitar. Dissemos também que tal estado calamitoso vem de longa data, denunciando o pouco caso da administração pública e a fraca (ou inexistente) força política regional.

Dias antes do primeiro turno das eleições, um anúncio surpreendeu a todos: a estrada, em vez de ser consertada pelo governo federal, que leva nossos impostos, será transferida para a administração do governo do Estado que, por sua vez, repassará a rodovia para as mãos da concessionária Caminhos do Paraná. Esta fará a “recuperação emergencial” da estrada seis meses antes de instalar a cobrança do pedágio, cujos preços até aqui não foram definidos nem discutidos.

Diz a informação palaciana que a medida foi elogiada pela Comissão Permanente Pró-Restauração da Rodovia do Xisto, tanto que suspendeu o bloqueio que havia programado por esses dias para chamar a atenção pública para a calamidade. Na Lapa, ainda segundo a mesma fonte de informação, outras pessoas saudaram a solução, dizendo que preferem arcar com os custos do pedágio que com aqueles conhecidos e decorrentes do péssimo estado de conservação da rodovia.

Convenhamos, isso é outra vergonha. O fato lembra a história do bode na sala de comunistas descontentes, ao tempo de Stalin. Qualquer solução, mesmo essa da extorsão de recursos extraordinários do bolso do contribuinte, será melhor que a situação atualmente enfrentada. O caminho, apesar de ruim, vinha sendo usado como alternativa para a fuga de duas praças de pedágio – um, na BR-277, nas proximidades de Palmeira; outro, na altura de São Luiz do Purunã.

Não é esta a questão, entretanto. Com todos os impostos, taxas e contribuições (recentemente acabamos de descobrir mais uma, que nem o candidato Lula conhecia, chamada Cide) irrita ver o poder público omitir-se de suas obrigações até a situação ficar insustentável e, aí, já sem resistência dos contribuintes, submeter os mesmos cidadãos à cobrança de pedágio de manutenção.

A esperança é que, com a mudança dos governantes nesta eleição, a situação seja revista de forma profunda e radical. Em qualquer lugar do mundo, pedágio existe em grandes auto-estradas, construídas e mantidas pela iniciativa privada, ante a impossibilidade de financiamento exclusivamente pelo poder público. Aqui, falidos o governo e a dignidade dos governantes, cobra-se pedágio até nas picadas.

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