Há muitos anos viveu e trabalhou em Curitiba o eficiente radialista Benê Marques. Era paulistano. Na capital paranaense exercia as funções de gerente-geral das Emissoras Coligadas, um grupo de estações de rádio que cobria praticamente todo o território paranaense, capitaneada pela Rádio Tingüi, de Curitiba. Jorge Nasser, líder popular e deputado por várias legislaturas, teve por muito tempo um famoso programa político na Tingüi. Foi ela, também, que lançou o rock curitibano, com compositores e cantores diversos, dentre eles Paulo Hilário, hoje conhecido empresário paranaense. Com toda a força e prestígio que lhe davam as rádios, Benê sempre rejeitou os convites para ser candidato a algum posto político. Aos que indagavam por que não aproveitava a oportunidade, costumava dizer: “Eu cometi um grave erro em minha vida e, se for candidato, vão descobrir e serei crucificado”.
Aos mais íntimos, confessou: “Um dia, quando eu tinha uns sete anos de idade, furtei uma moedinha da caixa de costuras da minha mãe, para comprar chicletes. Se for candidato, alguém vai descobrir e revelar esse meu passado de ladrão”.
Assim começa a acontecer com a nova equipe do governo federal. De Lula, já se descobriu, em outra eleição em que concorreu para presidente e perdeu, que teve uma filha sem ser casado. Como se tal fosse crime ou desonra. Embora existisse a escusa de que ele era viúvo e a mãe descompromissada, e ainda que assumiu carinhosamente a paternidade, incomodou-se muito com a denúncia. Agora surgem, na equipe de apoio de Lula, mais dois ou três casos. Antônio Palocci Filho, ministro da Fazenda, está sendo apontado por seu sucessor, o vice que assumiu seu lugar na Prefeitura paulista de Ribeirão Preto, de haver deixado um rombo nas contas da municipalidade e nenhum dinheiro para pagá-las.
O ministro dos Transportes, Anderson Adauto, tendo sido eleito deputado federal e se desincompatibilizado para assumir sua cadeira na Câmara, teve muita gente apostando que não voltaria ao ministério. Motivo: estaria ele, ou mais possivelmente alguns de seus assessores, envolvido em irregularidades acontecidas há algum tempo num pequeno município do interior mineiro. Reassumiu, com indulgência plena de Lula. Agora surge João Paulo, o petista eleito presidente da Câmara dos Deputados, como mais um que tem, em passado não muito distante, pecadilhos (ou pecados) que já dão o que falar.
Ele aparece, como deputado, dando presença na Câmara que fica em Brasília, ao mesmo tempo em que figura como presente nas aulas do curso de Direito que cursava no Grande ABC. Como não tem o dom da ubiqüidade, o Ministério Público está investigando e é possível que seja denunciado.
Esses casos sobre gente de Lula são de pequena gravidade, se consideradas as negociatas que políticos importantes já praticaram neste País e acabaram impunes. Pode-se até dizer, em alguns casos, que foram deslizes admitidos pela moral frouxa tolerada por nossa sociedade e pelos meios políticos, habituados, aliás, a grossa corrupção e bandalheira.
De qualquer forma, quem “já mijou fora do penico”, para usar uma expressão bem popular, que ponha as barbas de molho. Embora o PT seja um partido conhecido por ser ético, não tenham dúvida que tem muita gente remexendo a vida de cada um dos novos membros do governo. E de tanto fuçar, alguma coisa poderá ser encontrada.