Festival de Curitiba

Peça aborda as relações de poder de um partido de esquerda

“Uma peça tão indigesta quanto a política brasileira” seria perfeita para descrever espetáculo encenado pelo grupo Tablado de Arruar e dirigida por Clayton Mariano e Alexandre Del Farra.

A Abnegação II é a segunda parte de uma trilogia homônima e aborda as relações de poder de um partido político esquerdista e os acordos nada éticos necessários para enquadrar-se na política atual.

Jorge, o prefeito eleito, descobre as falcatruas e o enriquecimento ilegal de integrantes de seu partido e a partir disso decide mostrar um dossiê delatando cada participante que toma esta postura. As consequências tornam-se trágicas para Jorge. A peça se passa no ano de 2001.

Não há cenário e a narração é externa, o jogo de luz e as trocas de figurino são extremamente importantes para o desenrolar da história. O humor é digno de filmes policiais brasileiros, chulo e repleto de palavrões.

Um dos maiores pontos positivos da encenação são os “esquetes” apresentando diversas cenas de violência, mostrando que a má política corrobora a falta de segurança.

Uma das cenas apresenta nudez e outra o consumo explícito de cocaína, outras insinuam sexo e violência perturbante, como tortura e estupro. Durante algumas dessas cenas muitos espectadores saíram do teatro.

Não é um espetáculo para relaxar em uma sexta à noite e sim, para elencar uma série de problemas que enfrenta-se todos os dias e tornam-se invisíveis. O ator e diretor Alexandre Toledo, 51 anos, espectador da peça, classificou-a como indigesta e pertinente em relação ao tema.

“É um espetáculo que é uma “paulada na cabeça” que você leva, mas é uma discussão atual. É uma pena que a plateia não estava tão cheia e pessoas tenham saído durante (a peça), porque não aguentam a discussão”.

O diretor Clayton Mariano fala sobre a trilogia, afirmando que o Partido dos Trabalhos (PT) foi o tema de pesquisa para criar as peças. “Nesta peça a questão central era entender como o poder e a violência se encontram, onde eles se encontram e de que forma eles trabalham juntos”.

Mariano afirma que a peça fala sobre o início do governo do PT, e a partir do momento em que um partido de esquerda começa a agir como a direita (em relação à falta de ética) para conquistar um espaço maior na política.

A trilogia

Estreada em 2014, A primeira parte de Abnegação se passa atualmente, e também se propõe a discutir as relações de poder entre os integrantes do partido e uma decisão que precisam tomar em conjunto e que pode resultar em consequências catastróficas para o país.

Já a terceira parte, Mariano afirma que tratará sobre o início do partido, no momento utópico em que se encontrava antes de corromper-se.